E depois de ficar muuuuito tempo sem escrever algo que preste... Trago aqui uma história que fiz para passar o tempo (tédio ta foda aqui). Pode estar meio confusa, mas prometo esclarecer tudo nos capítulos posteriores.
Prólogo:
Capítulo 1:
Capítulo 2:
Prólogo:
- Spoiler:
- Prólogo
E naquela noite Dante Taffarel faria o que já devia ter feito há muito tempo.
Sob a pouca luz emitida pelas velas que ardiam na casa, caminhava serenamente no longo corredor. Os móveis de carvalho eram velhos, talvez de séculos atrás. A família Taffarel era rica e bem-sucedida, e governava há anos a cidade de Muzio. Dante aproximou-se com cautela de uma estante, cuja tinha poucos livros. Empurrou-a com toda sua força e revelou uma porta, já velha e desgastada. Retirou uma chave de sua manga e colocou na fechadura. E num único estalo, a porta se abriu.
O cômodo cheirava a mofo. A mobília estava revirada e espalhada pelo chão, a maioria quebrada. Portanto, o tapete que possuía sua ponta dobrada, revelou por pouco uma pequena porta no chão. Dante ajoelhou-se ao lado da pequenina porta e reutilizou a chave, colocando-a na fechadura. E novamente, se abriu numa grande facilidade. Pegou uma das tochas que iluminava o quarto e adentrou a sala escura que a porta escondia. O pequeno e apertado cômodo era completamente de pedra, e nada mais poderia caber ali a não ser Dante e o baú que havia lá, empoeirado e velho. Desta vez tirou de sua bolsa uma outra chave, que era claramente maior do que a qual usara para abrir ambas as portas.
O baú se abriu, e um amontoado de poeira subiu até o rosto de Dante. Limpou a sujeira com o braço e concentrou-se no conteúdo guardado por anos dentro daquela caixa: uma espada embainhada num estojo de couro e um manto negro. Dante retirou tudo aquilo e pôs ao seu lado, deixando a vista uma carta extremamente velha e frágil. Nela, estava escrito:
"Aqui jaz os equipamentos do último cavaleiro Taffarel. Uma honra que provavelmente não existe no tempo de quem lê essa carta. Lutávamos numa guerra que parecia não ter fim contra o reino de Gaenor, e infelizmente, nós perdemos. Porém, impedimos que o reino governasse outras terras do reino de Alestan, que permaneceu intacto. E por fim, apenas nós, os Taffarel, sabíamos a verdade de Rei Urian do reino de Gaenor e de toda sua família. Eu sei que todos no futuro saberão o tal segredo. Mas digo: a Aliança dos Conquistadores se fortificou. Talvez estejam inofensivos e tenham realmente parado com aquela vontade absurda. Os aliados tornaram-se fortes, e a aliança agora é quase indestrutível. Eu não sei se ainda estarão em guerra enquanto você lê isso, mas se estiverem, o objetivo inacabado é dever de um Taffarel."
E o resto da carta, entretanto, estava rasgado e perdido. A parte mais importante não estava ali. "Que segredo é esse? O que é essa aliança? Que vontade é essa? E qual é o objetivo inacabado?" Dante tinha muitas perguntas, e começou a achar que não devia ter mexido naquelas coisas.
E repentinamente, um barulho de porta se fechando ecoou pela sala. Dante se retirou num pulo do cômodo subterrâneo e fechou a porta. Porém, era tarde. Seu pai estava encostado na porta, com os braços cruzados. Não poderia ser boa coisa.
- O que você pensa que está fazendo aqui? - perguntou Donovan Taffarel, em voz alta. Estava nervoso após ver o filho vasculhando o quarto sem permissão. - Você sabe que não deve vir aqui, Dante! E o que você viu ali embaixo? Aquele baú inútil de nossa família?
E Dante se lembrou: se esqueceu de guardar os equipamentos de volta ao baú. Porém, manteve a calma.
- Desculpe, pai. Eu estava apenas curioso com o passado de nossa família. O senhor nunca me disse nada e...
Mas Donovan o interrompeu:
- Aquilo é coisa velha, e não tem nenhuma relação com nós. Uma guerra está prestes a iniciar, e isso nós sabemos. Mas é questão de território, e não tem relações com este passado descrito nesse papel. E você, com apenas dezesseis anos, não compreenderia nada sobre essa história.
Dante baixou a cabeça e caminhou lentamente em direção ao pai. Sabia que discutir não valeria a pena; ele não responderia nenhuma das perguntas que surgira ao ler aquela carta. Prometeu a si mesmo que voltaria e pegaria tudo o que encontrou, antes de partir para a guerra.
Antes que saísse da sala, seu pai lhe segurou pelos ombros e disse:
- Eu sei que agora deve estar curioso, filho. Mas por favor, esqueça isso. Um dia eu prometo lhe mostrar a outra parte da carta. Mas enquanto isso, tente manter segredo. Não conte nem mesmo para Leonardo. Sabe como seu irmão é.
Dante assentiu com um gesto de cabeça e voltou a caminhar no corredor pouco iluminado. Em seu quarto, viu Leonardo mergulhado em sonhos, enquanto roncava feito um porco. Sorriu. Ele e seu irmão lutariam juntos na guerra que em breve chegaria, e isso o fazia temer que nunca mais pudesse ver aquele rosto.
Deitou em sua cama, ainda refletindo sobre tudo o que acontecera, e fechou os olhos.
Em seu sonho, estava naquela mesma sala, porém era diferente: os móveis estavam intactos e limpos, e dois homens discutiam nervosos sobre algum assunto. Um deles era velho e tinha rugas no rosto, claramente com mais de setenta anos, mas o outro ainda era jovem e bonito.
- É melhor pararmos de tentar acabar com a batalha - sugeriu o velho, que estava sentado do outro lado da mesa, aparentemente o morador da casa. - Você viu o que aconteceu a Micah. Mecher com Urian é perigoso, e todos nós sabemos disso.
O outro homem gargalhou, e logo bufou das palavras proferidas.
- Micah foi tolo por morrer nas mãos daquele louco. Tentar conversar e acabar com tudo usando palavras é inútil.
- Com a morte de Micah, resta apenas um espadachim Taffarel, que é Maurice. Nós agora somos inúteis, e a guerra para nós está perdida. Por nossa culpa, o reino de Alestan cairá nas mãos do reino de Gaenor. Quero apenas defender a minha cidade, e mais nada.
E então, Dante se deu conta de quem era aquele velho. Era Omero Taffarel, o qual foi o responsável pela construção de sua casa e o qual fez a família ser uma das mais bem-sucedidas do reino de Alestan. Ele derrotou as tropas do reino Gaenor da cidade de Muzio com os espadachins Taffarel, e como prêmio pela conquista, recebeu em troca o governo de Muzio. O outro homem, porém, Dante deduziu que fosse Aldun Grimbald, um traidor que se uniu a Rei Urian e acabou com o último espadachim Taffarel.
E logo Dante teve certeza de quem era o jovem:
- A minha família, Grimbald, pode lhe ajudar, mas em troca desejamos uma boa quantia em dinheiro. Os Taffarel são ricos, e eu sei disso - ele sorriu de modo maléfico. - E agora, quem me deve uma resposta é você.
Omero Taffarel pareceu raciocinar por um instante, decisivo. E por fim, decidiu:
- Eu lhe darei o quanto quiser, desde que esteja ao meu alcance. E agora, trará suas tropas para defender Muzio?
Aldun sorriu, satisfeito, e levantou-se.
- Eu irei lhe ajudar amanhã se o pagamento for hoje. Certo?
Sem pensar duas vezes, Omero levantou-se e apertou forte a mão de Aldun, que até neste momento aparentava ser um bom aliado. Na noite do mesmo dia, Omero o pagou, sem ao menos pressentir que ele estivesse lhe roubando. E no dia seguinte, quanto as tropas do reino de Gaenor atacaram, os inimigos eram os próprios Grimbald.
O último espadachim Taffarel, Maurice, chegou e teve tempo de defender a cidade de Muzio. Neste dia, adentrou correndo o castelo de Omero e foi até a sala cuja possuía o cômodo subterrâneo. Lá guardou seus equipamentos e a carta que escreveu no baú, que até então estava vazio. E antes que pudesse se retirar da sala, Aldun Grimbald atirou-lhe uma flecha no peito, dando fim ao último espadachim Taffarel. Depois disso, ele e seu exército saíram de Muzio com o objetivo completo. Portanto, o objetivo de Maurice acabou incompleto, e isso fez com que a Aliança dos Conquistadores do reino de Gaenor pudesse vencer a guerra. Eles ganharam muitas batalhas e receberam vários territórios do reino de Alestan, e novamente pretendiam fazer isso na guerra que Dante e Leonardo iriam lutar.
Depois de tudo isso, Omero prosseguiu com o governo de Muzio, destinando a família Taffarel apenas a isso. Os espadachins, cujos eram ágeis e suportavam lutar com dez homens de uma vez, rapidamente tornaram-se apenas histórias, assim como a Aliança dos Conquistadores.
Dante acordou com sua pequena irmã de oito anos, Susanna, sobre seu corpo. Ria feito louca, enquanto o balançava pela cintura.
- Acorde logo, Dante, já passou de nove horas!
Ainda sonolento, ele sentou-se na cama e tentou processar aquele sonho. "Parecia tão real", pensou. Ele não sabia nada sobre toda aquela história, mas de algum modo, soube que era verdade.
Capítulo 1:
- Spoiler:
- Uma semana após invadir a sala sem permissão, Dante foi obrigado a prestar serviços para o pai. Infelizmente não resistiu a tentação de contar para Leonardo sobre a carta e os equipamentos, que compreendeu e prometeu guardar segredo. Mas Dante, portanto, não disse a ninguém sobre o sonho; nem mesmo ao pai.
A praça principal da cidade, cuja tinha uma pequena estátua de Omero Taffarel, era sempre muito movimentada e cheia de comércio. Por isso, metade dos guardas da cidade concentravam-se naquela área - mas mesmo assim alguns roubos passavam despercebidos. Dante estava sentado ao lado do irmão, aproveitando um dos raros momentos que seu pai lhe dava para descansar.
Leonardo havia ficado extremamente interessado sobre o baú escondido, e todas as noites acordava Dante para entregá-lo as chaves. Porém, Dante já havia as devolvido para o pai, mas mesmo assim não adiantava. Teve certeza que foi um erro dizer ao irmão sobre tudo aquilo. Se seu pai soubesse, com certeza lhe colocaria sob seus favores durante outras longas semanas. Aquele era o último dia em que prestaria tantos serviços para seu pai, e por isso, já planejava sua noite.
Sairia de casa ao lado de Leonardo, sem antes pedir a permissão de seu pai, para ir até o rio Cornelio. Lá se encontraria com a bela jovem que conhecera há pouco tempo: Elena. Seu irmão, porém, havia se apaixonado por uma outra garota, distinta de Elena. O nome era Cecília. Era uma garota rebelde, safada e tinha tudo o que Leonardo gostava. Já Elena, gostava de agir com calma. Dante a conheceu por puro acaso, enquanto fazia compras na praça principal, no dia seguinte depois de espionar a sala. Numa loja de alimentos, deparou-se com ela, que tentava recuperar algumas maçãs que escaparam de sua mão.
– Deixe que eu pego para você - dizia Dante, ajoelhando-se perto dela e resgatando algumas das frutas. - Veja se arrume algum cesto para guardá-las. Se quer comprar tudo isso, é essencial que tenha um.
Ela sorriu gentilmente, enquanto tomava das mãos dele as frutas.
– Obrigada - ela agradeceu. Antes que pudesse se virar e partir, Dante a ofereceu o cesto que carregava, vazio.
– Tome - ele se aproximou dela, com a mão erguida para os braços cruzados que carregavam as várias maçãs. - Eu tenho mais em casa.
Ela, sem hesitar, assentiu com a cabeça e pegou o cesto.
– É uma gentilesa sua - disse ela, após terminar de encher o cesto com as maçãs. - Qual é seu nome?
Dante não desejava revelar sua verdadeira indentidade, porém, sem escolha, teve de fazê-lo.
– Meu nome é Dante. Prazer em conhecê-la. Mas e a senhorita, como se chama?
– Eu me chamo Elena. O prazer é todo meu, Dante. Por acaso seria Dante Taffarel?
Relutante, ele fez que sim com a cabeça. Ela, então, aproximou-se dele e disse:
– Por sua gentiliza, me encontre amanhã a noite aqui na praça. É tudo que posso fazer para lhe retribuir.
E como um menino de cinco anos, Dante ficou muito feliz. Desde aquela noite, em que a realmente conhecera, se apaixonou perdidamente. Era a garota de sua vida. Disso ele tinha certeza. Mas agora, com tantos afazeres em seus últimos dias, era difícil falar com ela. No entanto, naquela noite ele finalmente poderia encontrá-la de novo.
Ao lado de Leonardo, na praça, refletia sobre tudo o que passara em sua última semana. Os dias pareciam durar mais, e estava tudo mais chato. Pelo menos, seu irmão decidiu ajudá-lo em seus serviços de entregar cartas em diversos lugares da cidade. Como lorde da cidade, Donovan Taffarel devia sempre estar ciente aos acontecimentos importantes da província. Por isso, mantinha contato com vários homens que sabiam desde os menores até os mais problemáticos acontecimentos. Donovan permanece mais atento a isso desde quando perdera a esposa, Susanna Taffarel (a filha foi batizada com o mesmo nome). Ela fora assassinada a poucos minutos de casa, perto da praça. E tudo por culpa do dinheiro - que, mesmo que fosse aparente ela estar carregando, ela não estava. Perdeu a vida em vão. Donovan sempre se culpou, mesmo que sempre soubesse que nem perto chegou de ser o culpado. E os assassinos, infelizmente, jamais foram encontrados.
Perdido em seus vários pensamentos, Dante finalmente foi retirado de seu silêncio mortal:
– Onde deve entregar a outra carta? - perguntou Leonardo, levantando-se do banco. - É melhor terminarmos logo com isso.
Dante retirou de sua bolsa uma carta mal-dobrada. Na parte exterior, dizia: "casa de Ulric Grimbald, na margem do rio Cornelio".
– Que ótimo - disse Dante, desanimado. - Temos uma carta para os nossos maiores rivais.
– Os Grimbald?
– Sim. E é justamente na casa de Ulric Grimbald. Ele não deve ter gostado do que fiz com o filho dele aquele dia.
E realmente não gostara. Há poucas semanas, Dante e Uhtred Grimbald, filho de Ulric Grimbald, brigaram numa taverna antes mesmo de comerem. Uhtred, porém, havia sido o responsável pelo início de tudo: provocou a família Taffarel, os chamando de pobres e perdedores. Foram tantas as provocações, que Dante acabou deixando a raiva lhe obter. Deu um soco no rosto de Uhtred, que lhe retribuiu com um chute na perna e lhe presenteou com uma marca que permaneceu durante alguns dias. E agora, deveria ir na casa dele. Era a última das entregas, mas com certeza a pior.
Leonardo sorriu. Achou que seria interessante ver o irmão encontrar-se cara a cara com o pai de Uhtred.
O rio Cornelio ficava há dois quilômetros da praça, e não demorou muito para que alcançassem a imensa mansão de Ulric Grimbald. Um imenso muro de pedra cercava toda a casa, que por dentro, era totalmente protegida por guardas. Era, talvez, mais bem guardada que o castelo Taffarel.
Dante se aproximou devagar do portão de ferro, e pela pequena abertura, chamou um dos guardas. Ele inspecionou cuidadosamente a carta e permitiu a entrada deles.
O jardim era tão belo quando o exterior. As árvores e arbustos eram todos bem aparados, e tudo aquilo fazia Dante e o irmão pensar que o jardim era uma floresta bem cuidada. Se aproximaram da porta, acompanhados pelo guarda, e bateram com força. Depois de três tentativas, Ulric Grimbald surgiu acompanhado de seu filho.
– Veja se não é Dante Taffarel e o irmão - ele sorriu. - Eu soube o que fez com meu filho há algumas semanas. Pelo menos, ele lhe retribuiu.
Dante, sem prolongar a conversa, apenas o ofereceu a carta de cabeça baixa. Ulric a tomou e a abriu, lendo demoradamente.
– Seu pai então já pensa em planos de guerra - ele a entregou ao filho, que fitava Dante nervoso. - Eu lhe agradeço, Dante e Leonardo.
– Não foi nada, senhor - disse Leonardo, ao ver que o irmão não diria nada.
Saíram da casa guiados pelo guarda, e Dante suspirou fundo. Foi um desafio enfrentar os olhos de Ulric Grimbald. Ele o temia tanto quanto o próprio pai; provavelmente porque os Grimbald nunca tenham sido amigos dos Taffarel. E isso fazia surgir uma questão que Dante não entendia - o que faria o pai enviá-lo uma carta? Talvez, nesses momentos de guerra, eles devam esquecer as diferenças, Dante pensou.
O sol descia lentamente no oeste, e os últimos raios vermelhos acertavam os olhos dos irmãos. Era hora de voltar para a casa e trocar de roupa. Cecília e Elena não demorariam mais de duas horas para aparecerem.
Quando adentraram correndo o pátio do castelo, Donovan Taffarel os esperava de braços cruzados na porta. E novamente, Dante viu-se sem sorte.
– Entregou a carta para Ulric Grimbald?
– Sim, pai - respondeu Dante.
– Então está livre de meus serviços, por enquanto - ele abriu a porta como gesto de confiança aos filhos, com um sorriso de satisfação. - Eu espero que não cometam mais erros, nenhum dos dois. São meus únicos filhos, e por isso, são as pessoas que eu mais confio neste mundo.
– Pai, eu já disse que não irei mexer mais com aquilo. Foi um erro, eu sei, mas a curiosidade me venceu.
Donovan gargalhou, e ficou claro para Dante que ele não acreditara em suas palavras. Seu pai era assim, e nunca mudaria. Em seu quarto, sentou-se ao lado de Leonardo, que estava jogado em sua cama.
– Eu não vejo a hora de vê-la de novo - disse Leonardo. - Foi tão boa a primeira vez!
– Vocês mal se conheciam e já estavam se beijando.
Leonardo riu.
– É assim que eu gosto. Ir com calma é perder tempo da vida.
– Isso por que não entende - provocou Dante, sorridente. O irmão bufou, sentando-se ao lado dele.
– Cada um com seus pensamentos. Eu gosto de ir rápido. Pra mim, isso ainda é perder tempo - ele se pôs de pé. - E agora vou me trocar para encontrar com Cecília.
E Dante fez o mesmo. Arrumou o cabelo até deixá-lo impecável, mas infelizmente não tinha roupas tão boas para essas ocasiões. Afinal, Elena era sua primeira namorada. E ele queria que fosse a única.
Saíram de casa quando o pai levara Susanna na rua, e deixaram o castelo nas mãos dos guardas. O rio Cornelio, naquele momento, estava lindo. A lua refletia em sua água parada, deixando-o belíssimo. Sentadas num banco na margem, estava Cecília e Elena. Porém, tinha algo errado; outros dois homens estavam ao lado delas.
Dante e Leonardo correram, apressados, e rapidamente os dois homens levantaram-se, com os braços entre os frágeis pescoços das garotas. Ambos seguravam uma faca pontiaguda sobre a pele.
– Largue elas! - ordenou Leonardo. Dante, sem perder tempo com palavras, correu em direção aos homens, aparentemente bandidos. Porém quando se aproximou um deles disse:
– Se chegar mais perto, eu arranco o pescoço dela! - ele pressionou a faca, fazendo uma gosta de sangue escorrer pela lâmina. Mesmo hesitante, Dante permaneceu imóvel. Aquilo não podia estar acontecendo. Como ele pôde permitir que tal coisa acontecesse com sua namorada?
E então, ele teve uma ideia:
– Solte-as e lutem como verdadeiros homens! - ele fez um gesto com a mão, os chamando para brigar. - Só conseguem ferir mulheres?
E por fim, deu certo. Pelo menos um pouco certo. O homem que segurava Cecília a largou rudemente no chão, fazendo-a colidir com força. Leonardo correu até ela e a ajudou, enquanto o bandido tentava acertar uma facada em Dante. O primeiro movimento já foi um erro: tentou acertá-lo pela esquerda, portanto, ele segurou o braço com facilidade e o socou na boca, deixando-o tonto. Aproveitando essa oportunidade, tomou a faca da mão dele e atirou no rio, chutando-o na barriga. Ele cuspiu sangue e caiu no chão, abraçando a própria barriga.
O outro bandido, cujo segurava Elena, assustou-se e ordenou:
– Vá embora! Se não eu mato a garota!
– Sabe quem eu sou? - perguntou Dante. - Eu sou Dante Taffarel, filho de Donovan Taffarel, lorde da cidade. Largue a garota ou morra você.
E sem escolha, ele a largou junto com a faca e correu até seu parceiro, ajudando-o a levantar. Os dois fugiram e as deixaram em paz.
– Você está bem? - perguntou Dante a Elena, que estava trêmula.
– Sim, obrigada. Se não fosse por você, eu acho que... - ela não continuou. Seus olhos lacrimejavam. Dante a levou para um banco, e viu que Leonardo e Cecília já não estavam mais ali. Mas não ligou; estava agora com Elena.
– Não se preocupe, Elena. Não acontecerá nada a você - ele a acariciou por trás da olheira, a relaxando. Ela encostou a cabeça no ombro de Dante e fixou a visão no belo rio que estendia-se por quilômetros à sua frente. Dante sorriu e disse:
– Agora deve me retribuir mais uma vez.
Ela sorriu e deu-lhe um tapa de leve. Os dois, então, permaneceram ali, após o trauma passado. "Eu já perdi minha mãe desse jeito... Não aguentaria perder outra pessoa que tanto amo", pensou Dante. Talvez aqueles dois fossem os mesmo bandidos cujos assassinaram sua mãe. Ficou satisfeito ao pensar nessa possibilidade.
Capítulo 2:
- Spoiler:
- Quando Dante e Leonardo voltaram para o castelo, Donovan e Susanna já estavam dormindo. Isso comprovou que o pai não fazia ideia do que acontecera aquela noite. E os observadores, por fim, também não eram tão bons quanto ele pensava. Os irmãos adentraram o quarto, sonolentos, e desmontaram em suas camas.
Na manhã seguinte, Dante foi acordado novamente por sua irmã pulando feito louca em sua cama.
- Pare, Susanna! Ainda é muito cedo!
A menina riu. Era a garota mais alegre que Dante conhecera.
- Cedo? São dez horas!
Dante resmungou em silêncio e sentou-se na cama. A irmã saltou no chão e se retirou do quarto, finalmente deixando Dante sozinho. Leonardo provavelmente já estava na rua, talvez com Cecília, mas era pouco provável: ele não gostava de namorar. Por isso, Dante muitas vezes chegou a pensar se um dia ele se casaria.
Mais tarde, após terminar sua refeição, Susanna lhe disse que o pai ordenava sua presença na sala do trono. Se tivesse de voltar a entregar cartas, ele não o faria. Havia prometido a si mesmo.
A sala do trono era o local mais espaçoso do castelo: um grande tapete vermelho estendia-se desde a porta até os dois tronos, cujo apenas um estava ocupado. E, próximo a eles, havia duas mesas, ainda com muitas comidas esparramadas sobre a toalha.
Os dois guardas que protegiam o trono logo se retiraram, como ordenou Donovan. Na sala ficou apenas ele e o filho.
- Olha, pai, eu não quero mais...
O pai, portanto, o impediu de prosseguir:
- Silêncio! Você não sabe do que se trata, sabe?
- Não - respondeu o filho, num tom baixo e respeituoso.
Donovan se pôs de pé e aproximou-se de Dante.
- Eu preciso que você e Leonardo vão buscar uma carta de Angelo Martinelle. Nós estamos providenciando tudo antes da guerra, e essa tarefa só pode ser realizada por você. Alguns de meus guardas são confiáveis, mas se eles abrirem a carta será ruim. Por isso, escute-me bem: Angelo Martinelle estará no porto às doze horas. Você deve pegar a carta, mas não deve abri-la. Se o fizer ou se mostrar sinais de que fez, você prestará serviços para mim o resto de sua vida!
Dante assentiu com um gesto. Ele não abriria a carta: já havia cometido erros o suficiente naquela semana. O irmão, portanto, era um tanto que curioso. Leonardo, como se tivesse escutado o pai a distância, adentrou a sala batendo a porta com força. Um estrondo ecoou pelo lugar.
- Leonardo! - chamou o pai. - Que bom que está aqui. Deve acompanhar Dante e buscar uma carta no porto. Aquele lugar é perigoso para um jovem sozinho.
- Na verdade, eu estava aqui justamente para chamá-lo - Leonardo sorriu torto. - Mas acho que não é tão importante quanto seu trabalho.
- Com certeza não é - Donovan sentou-se novamente em seu trono, apontando para a porta. - Agora eu preciso que terminem logo com isso. O porto é um pouco longe, e devem chegar antes de meio-dia.
Dante e Leonardo se retiraram calados do castelo, e ambos estavam curiosos. Angelo Martinelle era lorde de uma das maiores cidades do reino de Alestan, conhecida como Amparo. Era rica e a força militar era extremamente forte. Talvez fosse por isso que Donovan Taffarel agia com ele. Muzio, com um exército não muito grande e nem muito experiente, precisaria de ajuda na guerra. Afinal, a cidade ficava próxima a fronteira do reino de Alestan com o reino de Gaenor. O terceiro reino, chamado Enion, era aliado de Gaenor. Por isso, Alestan estava em grande desvantagem na guerra.
Quando os irmãos alcançaram a praça, Leonardo finalmente quebrou o silêncio entre os dois.
- Ultimamente os assuntos do pai estão estranhos. Não acha? Tivemos de levar cartas para generais, guardas. Eu não entendo o que ele quer.
Dante deu de ombros.
- Esse papo de Angelo Martinelle é um pouco estranho, mas estamos próximos de uma guerra. Você sabe como Amparo é uma cidade de defesa total. Acho que logo teremos aliados para defender a cidade.
- Não estou falando apenas desse Angelo. Nosso pai enviou uma carta para Ulric Grimbald. Aquela família nunca foi boa com os Taffarel. E nós dois sabemos muito bem disso!
- Nessa guerra eles devem esquecer as diferenças - disse Dante, sem prestar muita atenção no assunto. Leonardo, portanto, parecia completamente confuso com alguma coisa.
- Lembra do que aconteceu na última guerra que os Taffarel confiaram neles? Eles são espertos, Dante. Podem parecer inofensivos, mas não são.
Dante, então, se lembrou do sonho e das histórias que sua mãe lhe contara. Omero confiou em Aldun, e por fim, acabou entrando em falência. Se não fosse lorde da cidade, a família Taffarel seria pobre.
- Se formos avisar o pai sobre isso, não vai adiantar. Sabe como ele é. Irá dizer que tudo isso é passado e que deve ser esquecido. Mas de qualquer modo, ele pode ter razão.
Leonardo então se acalmou. Os Grimbald mais que os Taffarel já deviam ter esquecido tudo aquilo, e as diferenças agora eram deixadas de lado. Essa guerra, talvez, pudesse unir essas famílias tão distintas outra vez.
- E então, o que vamos falar com esse tal de Angelo? - perguntou Leonardo, curioso.
- Não vamos falar nada. Só pegar uma carta que o pai mandou. Disse que nenhum guarda é confiável como nós para essa tarefa - ele riu. - Acho que está apenas me dando um serviço extra. Ah, e o que você estava fazendo hoje mais cedo? Veio me chamar no meio de uma conversa com o pai.
- Eu ia levá-lo até a taverna do rio Cornelio. Um certo conhecido estava lá.
Dante rapidamente soube a quem ele se referia.
- Gosta de me ver brigando? Eu não quero mais olhar para aquele desgraçado! Da próxima vez, alguém vai acabar morto.
- Você deve resolver logo o assunto com ele - disse o irmão, tentando conter uma risada. - Eu não sei se isso é possível, porque sua rivalidade com ele existe desde quando era criança. Mas dessa vez, você passou dos limites.
Dante bufou.
- Você também não gosta dele, Leonardo. Muito menos de Ulric. Eu sei que se pudesse iria bater nele também.
- Que seja. O importante é ver você ou ele apanha-... - Leonardo não prosseguiu. Dizer aquilo enfurecia seu irmão. Mas já era tarde.
- Apanhando? Deuses, eu acho que você não tem nada de importante para fazer nessa sua vida tranquila! O pai só manda você comigo pois sabe que você não faz nada. Só pensa em mulher!
Leonardo riu, fazendo Dante parecer um mero idiota. Dissera tudo aquilo, mas o irmão pouco se importou.
- Pelo menos eu procuro por mulheres. Mas também é bom ver familiares espacando rivais. Precisamos às vezes fugir dos assuntos chatos de papai, por que é um saco ficar sentado ao lado dele para aprender a fazer aquele trabalho. Sábado pelo menos tem treinamento com general Ducan.
Dante suspirou e disse:
- Por que não pega umas cartas, um dia, e vai entregar em meu lugar? Seu tempo poderá passar rápido.
- Não tenho tempo para isso! - disse Leonardo, em voz alta. Dante não pôde esconder uma risada. Seu irmão era mesmo um preguiçoso.
Quando estavam na metade do caminho, próximos a ponte do rio Cornelio, Dante nem sequer olhou para a taverna. Fixou o olhar para a frente, com medo de se deparar com Uhtred. Portanto, para sua surpresa, o rosto magrelo de Uhtred Grimbald surgiu na ponte, com um sorriso cruel no rosto. Dante e Leonardo tentaram desviar, porém, Uhtred e seus dois amigos os impediram de continuar.
- Dê-me licença - pediu Dante, o empurrando. - Eu tenho assuntos para resolver.
- E que assuntos são esse? São pedidos do papai? Aquele velho que se acha o melhor?
Dante sentiu uma vontade imensa de socá-lo naquele momento. Porém, teve de se abster. Sem responder, conseguiu passar por ele. Mas ele o segurou pelo braço e disse:
- Você me deixou essa marca na boca, agora vai ter o que merece! - ele chutou as costas de Dante, que pouco pôde prever o ataque. Leonardo já lutava com os outros dois garotos, portanto já desmoranava no chão, logo atrás do irmão.
Uhtred agarrou o cabo de sua espada e gritou, nervoso:
- Você não é nada! Foi pura sorte ter me pegado aquele dia!
Ele desembainhou a espada e a brandiu, e num movimento rápido, tentou acertar Dante. Mas ele rolou para o lado e se levantou, retomando o equilíbrio. Do outro lado, Leonardo atirava um dos jovens no rio, enquanto o outro ainda se levantava do chão. Ele estava indo bem, comparado ao irmão.
Dante avistou uma pedra no chão, e antes que Uhtred pudesse lhe acertar, jogou-se na terra e a pegou. Ele a atirou no rosto de Uhtred, o fazendo cambalear para trás. Ele caiu de costas e soltou um grito agudo.
- Desgraçado! - ele parecia choramingar. - Você não vai escapar de novo! - com uma mão sobre a bochecha ferida, levantou-se com dificuldade e pegou a espada. Dessa vez, Dante decidiu enfrentá-lo. Quando ele se aproximou, Dante desviou para o lado e socou a barriga frágil. Uhtred largou a espada e curvou-se, caindo no chão.
- Maldito! - ele novamente se levantou, desta vez, mais fraco. - Eu te mato com meus punhos!
- Se não me mata nem com a espada conseguirá com os punhos? - provocou Dante. Leonardo, do outro lado, já havia desmaiado o outro, e agora, descansava na beira do rio, observando o irmão. O qual havia caído no rio fugira, assustado. Agora era apenas Uhtred e Dante.
Mesmo que Dante duvidasse das palavras de Uhtred, talvez fosse verdade o que ele dissera. Conseguiu desviar facilmente dos primeiros socos, mas depois, de modo inesperado, ele usou a perna. Acertou um chute no joelho de Dante, fazendo-o cair em seus pés, sustentando-se com dificuldade. Depois, colocou o pé sobre as costas e o deitou no chão.
- Quem venceu agora, Dante Taffarel? - perguntou Uhtred, glorioso. Porém, aquilo duraria apenas alguns segundos. Leonardo chegou por trás, sem que pudesse ser notado, com a mesma pedra que o acertara antes.
- Não foi eu. E muito menos você - disse Dante, segundos antes de Leonardo acertá-lo com uma pedrada na cabeça. Ele caiu desmaiado no chão, com sangue escorrendo pela boca e nariz.
- Você tinha razão. Se eu pudesse bater nele, eu com certeza o faria - Leonardo riu, fitando o jovem garoto desmaiado. Tinha a mesma idade que Dante, o que o motivava para sempre querer atacá-lo.
- E gostou de me ver batendo nele? - perguntou Dante, levantando-se com dificuldade. - Era isso o que queria há alguns minutos atrás.
- Eu amei vê-lo brigar. Por isso eu não me intrometi. - Ele riu, enquanto olhava para o porto ali perto. Estava cheio de pescadores e mercadores, e sabia que a maioria não era boa pessoa. - Agora estamos perto de Angelo, eu acho. Já passou de meio-dia.
- Espero que ele ainda esteja lá - disse Dante, preocupado.
Os irmãos apressaram o passo até o porto, e finalmente chegaram na área de comércio. Fedia a peixe. Era uma gritaria total: "Peixes frescos, pescados agora!", "Especiarias vindas direto de Gaenor!", "Peixes únicos de Enion!". Enquanto os irmãos procuravam desesperados pelo homem, Dante levara um susto súbito quando alguém pusera a mão em seu ombro.
- Dante Taffarel, eu sou Angelo Martinelle - disse o homem encapuzado de negro, retirando uma carta de sua manga. - Entregue isso a seu pai. Diga a ele que não temos tanto tempo.
Sem entender, Dante tomou a carta da mão do homem e virou-se para guardá-la na bolsa. Quando virou-se para Angelo novamente, ele já havia desaparecido. Leonardo apareceu do lado do irmão e perguntou:
- O encontrou?
- Sim. E já estou com a carta.