Mais uma vez aqui estou com minhas histórias.
Espero que gostem dessa, que procuro escrever para melhorar minha escrita, apenas.
Prólogo: O Mundo de Eoghar
Capitulo 1:
Capítulo 2:
Capítulo 3:
Capítulo 4:
Capítulo 5:
Capítulo 6 ---S2---:
Espero que gostem dessa, que procuro escrever para melhorar minha escrita, apenas.
Prólogo: O Mundo de Eoghar
- Spoiler:
- O Mundo de Eoghar
Após cada folha em que você passar neste livro, o vasto mundo de Eoghar se mostrará mais interessante. Embora o nome real seja Eoghar, o qual havia sido o do Primeiro Grande Mago, a maioria da população em que lá vive chama-o de Quatro Reinos. No entanto, explicarei isto mais à frente. Agora lhes direi um pouco mais deste mundo e de suas histórias passadas.
Há muito tempo, a magia já fora algo livre e comum em Eoghar, e os Grandes Magos ainda a ensinava por todos os reinos, como os próprios reis desejavam. Ela havia sido um presente enviado pelos deuses, que acreditavam que os humanos eram as criaturas perfeitas. Portanto, este estúpido pensamento era algo completamente errado.
Quando um milênio havia sido completado e os reinos ainda pairavam sob o domínio da magia, um povo de um lugar longínquo rebelou-se contra os outros três reinos. Este lugar se chamava Alestan.
Em Alestan a magia era inexistente. Havia lá espadas, arcos, martelos e lanças, mas não magia. Nem um único objeto mágico. Acreditavam que a magia era algo ruim; entretanto, não era mentira. A vontade pelo poder fazia muitos magos morrerem nas mãos da justiça. Naquele tempo, a magia estava tornando-se algo vil. Porém, ao longo de um milênio, os magos haviam diminuído muito a população. Os nobres que antes aprendiam a magia para serem úteis, agora desejavam aprender para matar e governar. A magia estava criando um caos.
E o povo de Alestan aproveitou deste desastre. Tinham mais de cem mil homens experientes no exército, os quais se tornaram conhecidos por Lâminas Dançantes.
A guerra, então, aconteceu. Os outros reinos jamais esperariam pelo ataque inesperado que os guerreiros de Alestan fizeram; contudo, a batalha não havia sido tão mortal como se esperava. Os que não possuíam magia poderiam viver, caso lutassem também na guerra e ajudassem a destruir os magos. Por sorte, nenhum dos nobres conhecia algum tipo de magia. Então, os quatro reinos, juntos, devastaram todos os magos, e a magia extinguiu-se.
Poucos anos depois da guerra que se tornou conhecida por Grande Guerra, a Era da Magia terminou, dando início à Nova Era. Entretanto, nem todos os objetos mágicos haviam sido destruídos; havia um, um único livro, escondido em algum lugar.
Capitulo 1:
- Spoiler:
- O vento soprava forte. O sol resplandecente já descia em direção as montanhas do Oeste, para finalmente desaparecer.
As Montanhas Esquecidas era um lugar perigoso; caminhos estreitos e sem proteção, feitos há milênios, era o único modo de subi-la. Inúmeras mortes já haviam acontecido pelo local, e por isso, a subida mortal tornou-se conhecida como Trilha das Almas.
No entanto, nem está misera história foi capaz de impedir jovens e destemidos viajantes de subi-la. Quando se alcançasse o topo da primeira montanha, uma ponte estendia-se à próxima, e o Castelo do Céu finalmente poderia ser avistado.
O castelo era, talvez, o último restante da Era da Magia. Ele escondia-se em meio à região mortal das Montanhas Esquecidas, e jamais poderia ser observado sem que antes os viajantes subissem até a ponte. O lugar em que foi construído, antes, era completamente inóspito. Mas quando foi erguido, tornou-se a moradia de muitas famílias durante a Grande Guerra. E as demais lá ainda residiam.
Mas a verdade por trás do castelo para atrair tantos guerreiros e viajantes de lugares longínquos, era pela sociedade de guerreiros que apenas lá se treinava: os Lâminas Dançantes. Desde o fim da Era da Magia, a sociedade tornou-se a preferida por muitos para se treinar novos espadachins. A busca pela técnica era o que levava tantos arriscarem-se a subir a Trilha das Almas. Porém, nem todos iam até lá por vontade própria; muitas vezes eram guerreiros mandados a pedido de reis, para tornarem-se da Guarda Real ou apenas guerreiros em potencial no exército.
Mas Barton e William não subiam a pedido de rei. Desejavam apenas aprender aquela técnica única e poderosa, que poucos do reino conheciam por completo. Queriam se tornar lendas nos Quatro Reinos, apesar de terem vindo de uma família pobre de pescadores. Os dois eram gêmeos; tinham dezesseis anos, porém suas aparências eram distintas. Barton possuía o cabelo crespo e loiro, enquanto William tinha os cabelos lisos e negros. Os olhos, entretanto, eram idênticos: marrons como a madeira.
Faltava pouco para alcançarem a ponte, para que finalmente pudessem visualizar o castelo jamais visto por seus olhos.
- É bom – disse William, apreciando o vento que lhe tocava as bochechas. – Eu sempre quis estar num lugar como este.
- Estamos tão perto, Will. Espero que nos aprove para deixar-nos treinar – Barton disse, enquanto mastigava um pedaço de maçã.
Will sempre sentia um frio na espinha ao ouvir aquela palavra: aprovar. Ele temia, temia que não fosse aprovado para ser treinado sob as técnicas antigas dos dançantes. Ele e seu irmão haviam partido fazia dias do Reino de Osmond até Alestan, após perderem seus pais num saque na aldeia em que viviam. Desde então, já haviam decidido que realmente queriam estar no Castelo do Céu. Desde crianças sonhavam com aquilo, e agora, estavam tão perto. Will apenas esperava que fosse aprovado. Ele tinha de ser aprovado.
Repentino, Barton sentou-se próximo a encosta da subida. Jogou sua bagagem ao lado e fez um gesto para que Will se sentasse. O irmão, sem entender, obedeceu.
Barton deu uma última mordida em sua maçã, então a atirou do penhasco. Depois se virou para sua bolsa e vasculhou seus poucos pertences.
- O que quer? – Will perguntou, também retirando sua bagagem.
Sem responder, o irmão retirou da bolsa um tinteiro, uma pena e uma folha. Lentamente e com cautela, escreveu com sua melhor letra: “Eu, Rei Siward do Reino de Osmond, envio para o treinamento dos dançantes estes dois jovens aprendizes. Se a aprovação for feita, não deixem de me avisar”. Logo ao terminar de ler, Will lembrou-se de que Barton não poderia esquecer-se de citar a aprovação. Caso isso acontecesse, os guardas do Castelo do Céu saberiam, e então os dois acabariam mortos.
- Caro irmão, estas são técnicas para enganar estes burros que protegem o castelo. Vamos conseguir entrar facilmente! – disse Barton, com um sorriso que mostrava a Will seus dentes amarelados. Ele guardou seus poucos pertences de volta à bolsa, e então se levantou. Naquele momento, Will percebeu como a subida agora estava tão estreita; sem tirar os olhos da montanha a sua frente que lhe impedia de ver o castelo, levantou-se num sobressalto, tombando em direção ao abismo. Barton segurou-o pelo braço antes que caísse, e disse:
- Tome cuidado. Não vá morrer logo aqui, depois de chegar tão longe – ele jogou-o para trás, e Will chocou-se com as costas na encosta. Pegou sua bolsa e seguiu apressado seu irmão.
O caminho havia tornado-se mais estreito. Aquela parte talvez fosse à responsável por tantas mortes. Eles andavam ao lado da encosta, com ambas as mãos apoiadas sobre ela. Tentavam sempre que possível encontrar uma pedra para segurarem, para conseguirem manter equilíbrio.
O pé de Barton havia deslizado para trás, porém Will também o segurou pelo braço. Quando finalmente alcançaram a ponte de madeira velha e desgastada, suspiraram profundamente. Eles haviam conseguido.
A noite já havia coberto todo o reino, no entanto as estrelas ausentavam-se do céu. Mesmo sob a escuridão, o castelo ainda podia ser visto por culpa das tochas que tinha em suas paredes. Era realmente lindo: era uma imensa estrutura de pedra, que mesmo depois de tantos anos, não havia perdido sua beleza. Acima dos portões havia uma grande espada, que nenhum homem jamais conseguiria empunhar.
O castelo estava construído sobre uma montanha, e por isso, sua metade estava sob ela. Ao contrário desta parte, outra poderia ser vista sem nenhum tipo de proteção por baixo, o que dava a impressão de que em qualquer momento ele poderia desabar. Era realmente incrível como aquilo jamais caíra.
Sem perderem tempo, os irmãos atravessaram a ponte, e então se encontraram com uma descida que levava até os portões do castelo.
Seguiram-na sem se preocuparem com a segurança, e rapidamente se encontraram com os guardas. Eles trajavam simples cotas de malha e capacetes, sem nenhum tipo de enfeite. Com suas lanças, bloquearam a passagem que levava até o salão, e então um deles disse:
- Quem lhes enviou?
- Rei Siward – respondeu Barton, aproximando-se deles. Retirou de seu bolso a carta falsa que havia escrito, e então a entregou para o qual perguntou.
Com uma mão, o guarda a leu atentamente. Devolveu-a para Barton e disse:
- Podem passar. Espero que sejam dignos de aprenderem nossas técnicas – ele retirou sua lança da passagem, e logo o outro também o fez.
O salão era lindo. Havia lá várias mulheres, crianças e homens, sentados nas mesas com deliciosas refeições. Um tapete vermelho estendia-se ao longo da sala, que, em seu lado, possuía vários pilares com mesas por trás. No fim, havia dois tronos de pedra, um ao lado do outro. Ambos estavam forrados com a pelagem de algum animal. Ao lado do trono esquerdo, havia a escadaria que levava ao segundo andar. No entanto, ao lado do outro, havia um portão, cujo provavelmente levava à área onde os Lâminas Dançantes treinavam.
E lá eles adentraram.
Diferente do portão, aquele lugar não era nada bonito. Era uma caverna, simplesmente. Lá havia tochas e guerreiros com espadas presas à cintura, fazendo o corredor rochoso parecer menos assustador.
Quando finalmente o atravessaram, se encontraram com uma sala espaçosa, entretanto também completamente de pedra.
Aquele era o local onde os Lâminas Dançantes treinavam. Ao redor do local havia bonecos para treino, onde alguns guerreiros treinavam. No entanto, no centro, havia um grupo de aprendizes, com um homem destacando-se na frente: tinha uma barba negra mal feita, e usava uma cota de malha como a dos guardas. Era calvo, e tinha olhos negros como à noite. Devia ter pouco mais de trinta anos.
- Ora, parece que temos novos aprendizes! – ele disse, virando-se para Barton e Will. Aproximou-se dos dois irmãos, e os inspecionou cuidadosamente. Rodeou-os lentamente, e aparentava estar procurando algo preso à roupa deles.
- Postura correta, garotos – ele ordenou, e logos os dois garotos obedeceram. Deixaram a coluna reta, e também ambos os braços. – Godart, espadas! – o outro aprendiz, quando ouviu a ordem de seu instrutor, correu em direção até o grupo reunido no centro da sala, e de alguns dos garotos tomou duas espadas de madeira. Correu até o instrutor e as entregou a ele.
- Eu me chamo Ellis, homens. De onde são e qual seus nomes? – o mestre perguntou, dando aos irmãos as espadas.
- Viemos de Osmond, senhor. Meu nome é Barton, e o de meu irmão é William – Barton respondeu. – Siward mandou-nos aqui, para sermos treinados. Somos os novos guerreiros recrutados, mesmo que sejamos apenas adolescentes.
Ellis, com uma sugestão de sorriso no rosto, disse:
- Rei Siward, Barton. Diz-se Rei Siward, não apenas Siward.
- Ah... É claro, senhor. Às vezes isto se passa despercebido – Barton corou, e olhou de relance para seu irmão. Estava fingindo passar-se por alguém honrado ao rei, e mesmo assim errara o modo de como chamá-lo.
- Isso agora não importa – o instrutor disse, desembainhando sua espada de madeira. – Para tornarem-se Lâminas Dançantes, precisam passar pelo teste. Caso reprovados, voltarão para casa.
Will engoliu seco. Havia chegado à hora. “Foi tão rápido, tão rápido!” ele pensou desesperado. Desejou que não tivessem chegado ao castelo tão cedo.
- O teste será amanhã – Ellis olhou de relance para Godart: era um garoto baixinho, e tinha cabelos lisos e negros. Seus olhos, entretanto, eram azuis como o céu. – Mostre-os o quarto, Godart. Precisam descansar.
- Sim senhor! – o garoto respondeu, correndo até os dois irmãos.
“Eu vou ser aprovado... vou me tornar um Lâmina Dançante, com certeza!” Will tentou parecer confiante, enquanto atravessava o corredor rochoso. Ele e seu irmão estavam tão próximos para aprenderem as técnicas antigas dos dançantes; a única que poderia lhes impedir seria a reprovação.
Capítulo 2:
- Spoiler:
- – Levante-se, Will! Ande logo! – disse Godart, adentrando o quarto sem importar-se com a privacidade. – Barton e Mestre Ellis nos esperam.
Will, ainda atordoado, abriu os olhos e sentou-se na cama. Olhou para a porta e viu Godart, já empunhado com a espada de treino. A cama à sua frente estava vazia e arrumada; Barton já havia se levantado.
Pôs-se de pé num pulo, e pegou sua espada de madeira que jazia no chão.
- Meu irmão... Nunca conseguirei entendê-lo – disse ele, enquanto olhava a janela acima da cabeceira de sua cama. A manhã estava escura e fria, e as Montanhas Esquecidas pareciam realmente assustadoras naquele momento.
Caminhou até a porta e tomou Godart pelo braço, retirando a mão do garoto da maçaneta.
- Acho que um pouco de privacidade seria melhor, não é?
Godart sorriu bobamente.
- Desculpe-me. Mas você já devia estar acordado faz mais de uma hora.
Will arregalou os olhos, surpreso.
- Por que não me acordou mais cedo? – ele empurrou Godart para o corredor, e saiu logo em seguida. – Já corro riscos de não ser aprovado!
- Seu irmão mandou-me aqui apenas agora. Não é culpa minha.
Will se enfureceu. “Barton, você devia ter me acordado!” ele murmurou para si. Fechou a porta num estrondo, e seguiu o corredor em direção ao Oeste. Desceu as escadarias rapidamente, com Godart logo atrás.
Adentraram a caverna e seguiram em direção a área de treino. Lá estava Barton, treinando num dos bonecos, e Mestre Ellis, olhando-o de trás. Quando o instrutor percebeu a presença dos outros alunos, disse:
- Já estava na hora, Will. Dormiu bem?
Aquelas palavras fizeram todos lá presentes rirem. Will corou, e logo disse:
- Vamos logo fazer o teste. Não quero perder tempo.
Ellis sorriu. Pareceu satisfeito. Fez para que Barton se aproximasse do irmão com um gesto, e assim ele o fez.
- Numa batalha, você vira a espada – disse o mestre, colocando a espada sobre o ombro de Will. – Por isso, você deve esquecer-se de tudo ao batalhar. Tudo.
Will assentiu com um gesto de cabeça, e então o instrutor prosseguiu:
- Saibam que – ele levou a espada ao ombro de Barton, assustando-o –, a lâmina da espada é o que separa a vida da morte. O aço é o Senhor da Morte.
Barton, não compreendendo o que ele dizia, disse:
- E quando vamos treinar?
- Não me interrompa – o mestre pressionou a espada no ombro do garoto. – Escute-me com atenção, e verá que isso é realmente útil.
Barton, então, calou-se. O mestre sorriu para ele, e continuou:
- Sabem por que os dançantes são fortes?
Will e Barton não disseram nada. Não faziam ideia do que responder. Godart, percebendo que ninguém iria dizer algo, viu uma oportunidade para finalmente parecer inteligente:
- Nós nunca desejamos perder. Somos a lâmina que consegue pensar.
- Exatamente – o instrutor sorriu. – Parabéns.
Godart, após responder, se distanciou dos irmãos, e correu até um boneco de treino.
O mestre segurou os punhos de Barton e Will, cujos seguravam as espadas, e levantou-os.
- Agora precisam de velocidade. Barton, você atacará. Will há de defender tempo o suficiente para que você não o acerte.
Os garotos assentiram, e o instrutor fez o sinal para que iniciassem.
Barton atacou numa incrível velocidade, acertando Will com seu corte diagonal. Barton atacava com tudo que sabia: corte à esquerda, corte à direita, corte para frente. E Will pouco defendia.
- Um Lâmina Dançante há de ter velocidade. Ela é o segredo para vencer! Vamos, Will, defenda!
Mas Will não conseguia. Barton era ágil e forte. Coisa que jamais fora. Acreditava que era realmente inferior ao irmão, em tudo.
No entanto, decidiu tentar acabar com este pensamento. “Somos a lâmina que consegue pensar”, ele murmurou a si próprio. Suspirou fundo e empunhou a espada com ambas as mãos, preparado agora para defender todos os ataques. Cortada à lateral, à esquerda, cortada à direita. E Will defendeu. Então, inesperadamente, começou a atacar seu irmão, dizendo que agora era a vez dele para defender.
Ao contrário de Will, Barton já iniciou defendendo com facilidade todos os ataques. A respiração de Will tornava-se cada vez mais pesada, e o suor escorria por seu rosto.
Numa reviravolta, os irmãos começaram realmente a duelar. Tentavam atacar um ao outro, com toda força possível. Will, mesmo que tivesse melhorado em alguns aspectos, sabia Barton ainda era mais ágil e forte.
Cortada à esquerda, cortada à frente, cortada à cima. Restava a Will apenas defender. Sua força estava esgotada; entretanto Barton parecia ter total controle sob a sua. Aparentava ainda conseguir lutar durante horas.
Sem que Will percebesse, Barton havia lhe encurralado contra a parede; tudo por sua falta de atenção. Defender os ataques estava demasiadamente difícil, pois seus braços não tinham liberdade com a parede os atrapalhando.
Por fim, Barton acertou-lhe o joelho, fazendo-o desmoronar aos seus pés.
- Muito bom! – disse Ellis, batendo palmas. – Barton, você é veloz. Quanto ao seu irmão... – ele aproximou-se de Will, e deu a mão para que ele se levantasse. Hesitante, Will segurou a mão do mestre e pôs-se de pé.
- Obrigado, senhor – agradeceu Barton, passando a mão na testa encharcada de suor. – Este é o teste?
Ellis sorriu. Entretanto, parecia um sorriso maléfico.
- Os Lâminas Dançantes também trabalham em grupo. No entanto, vocês dois devem encontrar a passagem que usamos para descer e subir a montanha, juntos. E isso em menos de uma hora. Ah, e não peçam ajuda a ninguém. Todos os que me disserem algo de vocês estarem pedido informações receberão prêmios; também há várias pessoas espalhadas por todos os locais do castelo para avaliarem como vocês dois juntos agirão. Por isso, vocês estão fadados a descobrirem ou não está passagem, juntos.
Barton virou-se para Ellis.
- Isto não é um teste. Temos que treinar com espada, como agora fizemos.
- Tenha calma. Afinal, acabaram de chegar – ele pôs a mão sobre o ombro do aprendiz. – Você deve ficar feliz. Agradeça pela infância fácil que tem.
- Eu já sou adolescente – disse Barton, tirando a mão do mestre de seu ombro. – E minha infância foi difícil. Muito mais difícil que a sua! Eu perdi meus pais, sabia? Não diga o que não sabe! Você que teve uma infância de luxo sob o teto deste castelo!
- Você que diz o que não sabe – Ellis agarrou-o pelo pulso, com toda sua força. Todos os outros aprendizes silenciaram-se, olhando-os. – Eu perdi meus pais aos cinco anos. Fui trago a Alestan com um escravo para ser vendido. Passei meses preso numa gaiola completamente lotada de homens fedidos e sujos, com fome e fraco. E eu era apenas uma criança, uma mera e frágil criança.
- Mas... – Barton fora impedido por Will:
- Pare! Ele agora é seu mestre!
Barton calou-se, e abaixou a cabeça. Mas Ellis não mentia: vivia antes no Reino de Eldred na cidade de Bricet, e trabalhava como ferreiro numa humilde ferraria que também era sua moradia. Mas um dia, alguns guardas juntaram-se a um grupo de saqueadores e devastaram parte da cidade. E isto causou a morte de seus pais, que tiveram a garganta cortada na frente do próprio filho. Desde então Ellis foi obrigado a ajudar estes bandidos.
Um dia, porém, o acampamento destes saqueadores fora atacado, e Ellis acabou como um prisioneiro.
E como prisioneiro permaneceu até seus seis anos.
Por sorte, um dia foi posto num barco, o qual levava até o Reino de Alestan. Lá os homens que o levaram tentaram vendê-lo como escravo, enquanto ele vivia preso numa gaiola cheia de homens, com fome e sede. No entanto, outro grupo de saqueadores atacou também o acampamento onde comercializavam os escravos, e Ellis acabou livre.
Ele fugiu até as redondezas das Montanhas Esquecidas, a procura de um abrigo. E lá, ele fez o quase impossível – encontrou a passagem secreta que levava até o Castelo do Céu, que apenas os Lâminas Dançantes e seus moradores conheciam. Desde então, os moradores do castelo deixaram-no viver lá e aprender as técnicas dos dançantes. E depois de anos ele finalmente tornou-se um dos instrutores.
Ellis olhou Barton e depois para Will, calmo.
- Desculpem-me. Isto tudo é passado. Vamos nos concentrar no que realmente devemos.
Barton olhou-o nos olhos, e suspirou fundo:
- Desculpas sou eu que o devo, senhor. Deixei-me levar pelos pensamentos antigos, e então fiquei nervoso.
- Esqueçamos agora este assunto – o mestre sorriu. – Vocês devem fazer o que eu disse. Mas antes, todos vocês devem comer – ele aumentou o tom da voz. – Estão com fome?
Will e Barton trocaram olhares, e então perceberam que não comiam algo de demais a dias. Passaram a mão na barriga e juntaram-se a multidão de aprendizes que seguia os instrutores pelo corredor rochoso, até o salão.
Capítulo 3:
- Spoiler:
- Barton e Will pareciam não comer fazia dias. Na mesa havia aproximadamente vinte aprendizes, do qual metade observava os irmãos: os dois comiam qualquer coisa, desde que estivesse perto. Com um pão na boca, Barton disse:
- Isso é o paraíso! Olha esse tanto de comida! – ele pegou uma uva e a jogou em sua boca, sem que antes terminasse de comer o pão.
Will, sentado ao seu lado, sorriu por vê-lo feliz. Barton andava triste ultimamente; parecia estar refletindo demais sobre os pais.
Eles haviam perdido seus pais aos nove anos, numa noite fria e chuvosa. Estavam trancados na pequena casa, com esperança de que os saqueadores não os vissem. No entanto, eles arrombaram a porta, e viram toda a família escondida sob a mesa. Ambos foram capturados, e postos no lado de fora, junto a todo o resto da população.
Uma fila havia sido formada com todos os moradores, e no final, eram decapitados. Barton e Will conseguiram fugir, mas seus pais, não.
Durante quatro anos eles viveram ajudando pescadores, em Porto da Tempestade. Um dia, porém, fugiram com um dos barcos e seguiram em direção a Alestan, decididos a realizar seus sonhos: tornarem-se Lâminas Dançantes.
Quando chegaram, hospedaram-se numa pousada na cidade de Bricet, com o pouco dinheiro que possuíam. Entretanto, na primeira noite, conheceram um Espadachim do Oeste, cujo fazia parte da sociedade de guerreiros Espadachins do Oeste. O guerreiro, já dominando a arte, foi obrigado a ensiná-los um pouco de suas técnicas. E durante dois anos aprenderam a manejar a espada como um espadachim.
Aos quinze anos, partiram em direção as Montanhas Esquecidas. E lá eles finalmente chegaram.
Will olhou para Barton, e percebeu que ele olhava fixamente para uma garota que se sentava ao lado de Godart. Era realmente linda: tinha longos cabelos loiros e olhos tão azuis como o céu.
- Vá lá – sugeriu Will. – Conheça-a!
Barton corou, e fuzilou-o com o olhar.
- O-oque foi? Volte a comer! – ele tentou disfarçar comendo a última uva do cacho.
- Não perca tempo, irmão. A vida pode ser mais curta do que se imagina.
Barton bufou e riu.
- Ela é apenas um descanso para meus olhos, nada mais!
Will gargalhou, e logo se pôs de pé.
- Se não vai falar com ela, eu vou.
Barton tentou hesitar por um instante, no entanto, levantou-se num pulo e empurrou Will, abrindo caminho. Sentou-se num dos espaços vazio a frente da garota, enquanto Will o observava do outro lado.
- Oi, Godart – ele disse, sem tirar os olhos da garota, que conversava com outra ao lado.
- Barton! Comeu bem? – Godart gargalhou. – Você e seu irmão pareciam não comer a muito tempo.
- E é verdade. Não comemos direito desde quando chegamos aqui nas Montanhas Esquecidas. Carregávamos em nossas bagagens algumas maçãs e pães, porém nada que durasse por muito tempo. Quando chegamos a Trilha das Almas tínhamos apenas três maçãs. Dei duas a meu irmão, e acabei ficando com muito mais fome até subir aqui.
Godart gargalhou, e bebeu um gole de seu suco. Barton percebeu que a garota havia prestado atenção em sua conversa; logo, decidiu continuar:
- E também, quando chegamos à cidade de Bricet, fomos roubados na pousada em que passamos a noite. Nossa comida infelizmente foi levada, junto com todo nosso dinheiro. Por isso tivemos falta de comida! – ele riu junto com Godart. A garota também riu, e depois se virou para a amiga e cochichou algo. Barton ficou feliz de fazê-la rir com histórias sua e de seu irmão.
Ela, então, fixou o olhar em Barton. Repentinamente, ela perguntou para ele:
- Você é o novato?
- Sim... Eu e meu irmão – balbuciou Barton, nervoso.
Ela deu um risinho e perguntou:
- Como se chama?
- Barton – ele corou por estar nervoso. – E você, qual seu nome?
- Me chamo Catherine – ela respondeu. – Barton, como você é novato, provavelmente não viu o jardim. É belo. Talvez a parte mais bonita do castelo.
- Não, eu não o vi. Eu pouco explorei o castelo. Gostaria de vê-lo, algum dia.
Barton percebeu que provocara um silêncio entre a conversa dos dois. No entanto, eles ainda olhavam-se nos olhos um dos outros, fixamente. Mil pensamentos se passaram pela cabeça de Barton naquele momento: “será que eu disse algo de errado?”, “Este jardim é algo ruim?”, “Eu fui muito grosso?”. Mas tudo isso foi excluído de sua mente quando ela decidiu, por fim, acabar com o silêncio:
- Podemos ver o jardim, ao entardecer. Quer vir comigo?
- Seria ótimo. Obrigado, Catherine – respondeu Barton sem pensar duas vezes. Neste momento, sentiu-se o garoto mais sortudo do mundo.
- Pode me chamar apenas de Cat, Barton. Vejo você mais tarde! - Catherine levantou-se seguida por sua amiga, e despediu-se de Barton com um aceno, e ele também o fez. Godart olhou-o, com um sorriso de bobo.
- Você é sortudo. Aposto que muitos dos aprendizes agora odeiam você – ele inclinou o pescoço, tentando observar alguém que cochichasse sobre Barton.
- Acho que sou mesmo – Barton vangloriou-se, sorrindo.
Will, ao perceber que a garota havia saído, correu até o lugar vazio ao lado de Godart e sentou-se. Olhou para Barton com um sorriso e o parabenizou:
- É novato e já conseguiu um encontro. É isso que chamo de sorte!
- Não é um encontro – corrigiu Barton. – Ela apenas me mostrará o jardim.
Will e Godart riram juntos, e Barton corou.
Permaneceram em silêncio durante um tempo, enquanto bebiam o delicioso suco de uva. Mas Will, neste silêncio, mergulhou novamente em seus pensamentos. Eles estavam ali, no Castelo do Céu, vivendo seus sonhos. Em breve, caso fossem aprovados, se tornariam Lâminas Dançantes. Barton tinha certeza de que seria aprovado; mas Will não. Já havia perdido para o irmão no duelo ao amanhecer, e agora, Mestre Ellis já o via como menos capacitado.
“Isto aconteceu tão rápido”, Will sempre murmurava a si. Contudo, era verdade. Entraram no castelo com facilidade, e agora já viviam lá. Mas quando terminassem seus treinamentos como Lâminas Dançantes, teriam de partir e tomar rumo próprio. Isso porque haviam descrito na carta que foram mandados pelo rei. E realmente, era o único modo de entrar; pelo menos eles não conheciam outro método.
Mas Will ainda sentia-se inferior a Barton. Ele já havia conseguido um encontro com a garota mais bonita que ali estava presente, enquanto Will apenas conversava com Godart. No entanto, Barton não gostava de Godart: o que deixava a Will um amigo que não fosse também de seu irmão.
Mas Barton também escondia pensamentos sobre o irmão. Sempre o achou, em alguns momentos, mais inteligente. Não fisicamente, mas mentalmente. Sempre pensava em métodos rápidos quando eram cercados por guardas, bandidos ou qualquer outro tipo de pessoa. Mesmo que às vezes também pudesse ser mais esperto, como quando escrevera a carta falsa, sentia-se inferior a Will nisto.
Uma vez, quando ambos estavam hospedados numa estalagem em Bricet, Will conseguiu convencer o Espadachim do Oeste a ensiná-los. “É o nosso sonho”, disse ele, ajoelhado aos pés do homem, “você, como um justo Espadachim do Oeste, deve passar seu conhecimento aos fracos. Dançar com uma espada seria algo difícil de ensinar?”. No entanto, o espadachim havia recusado. Mas num pensamento rápido, Will continuou: “Ficaremos eternamente gratos com seu ensino. Você deve seguir a honra dos Espadachins do Oeste e passar o seu ensinamento para quem lhe pede. Ensine-nos, por favor.”. O homem, então, refletiu sobre aquelas palavras. Quem pede deve ter o que deseja.
O mestre do espadachim chegou na manhã seguinte, e obrigou-o a ensinar aos irmãos. E por dois anos ele ensinou aos dois as técnicas dos Espadachins do Oeste. Ao passar este tempo, os espadachins partiram sem dizer o motivo. Will e Barton então prosseguiram seus caminhos até as Montanhas Esquecidas.
Will levantou-se inesperadamente, e Barton franziu a testa.
- O que irá fazer?
- Procurar a passagem secreta, que Mestre Ellis nos mandou encontrar. Vem comigo?
Barton bebeu o último gole de seu suco, e depois se pôs também de pé.
- Ele disse a nós que nos avisará quando chegar a hora de procurar. Não acha melhor obedecê-lo?
Godart, olhando-os conversar, salientou:
- Procurem agora. Quando ele mandar vocês dois procurar, já saberão onde está. Ou talvez não – ele mordeu um pedaço da maçã. – Mas será mais vantajoso caso achem a tempo. Para isso vale à pena tentar, não acham?
- Eu acho – concordou Will. – Mas e você, Barton?
Barton pareceu hesitar por um instante, no entanto, respondeu:
- Claro. Vamos procurar – ele se espreguiçou, pondo os braços para o alto. – Por onde começamos?
Will olhou para o lado, à procura de um lugar suspeito. E encontrou outra passagem de pedra, semelhante à sala de treino dos dançantes, e apontou para ela.
- Por lá – disse ele. Barton assentiu com um gesto, e pôs-se a seguir Will.
Capítulo 4:
- Spoiler:
- Barton, ainda relutante em seguir pela caverna, virou uma última vez para Godart, que os olhava com um sorriso. No entanto, nada ele fez, a não ser permanecer lá, sentado e comendo.
Aquela caverna era idêntica a outra. Seguiram o corredor até uma sala espaçosa, que no centro, via-se uma escada que levava até o andar de baixo. Penduradas à parede havia várias pinturas, já velhas e desgastadas.
Barton aproximou-se da escada e olhou-a. Ao descê-la, dava-se numa sala pequena, cuja tinha apenas outra escada idêntica para descer.
- É aqui, Will. Por que Mestre Ellis mandou-nos procurar algo tão fácil?
Will bufou.
- Porque provavelmente não é por aí. Tenho quase certeza de que isso leva apenas para um lugar inútil – ele virou-se para um dos quadros, pintado com um mago segurando uma esfera flamejante. – Este quadro deve ser da Era da Magia! – ele aproximou-se correndo da pintura, e a cheirou. Barton riu.
- Que está fazendo? Vamos descer.
Will resmungou e o seguiu.
Desceram correndo a escadaria até o outro andar. Desceram, desceram e desceram ambas as escadas que encontravam. “Que lugar!” Will murmurou, quando contou o oitavo andar.
Os dois já desciam os degraus num salto, mas mesmo assim demorava. Já era o décimo segundo andar, e eles começaram a finalmente cansar.
“Treze, catorze, quinze, dezesseis, dezessete...” Will contava após cada cômodo em que passavam. A numeração estava de acordo com o que desciam. Logo, quando alcançasse o fim, saberia quantos andares seriam.
Estavam ficando tontos. As salas pareciam mais redondas, e as pedras, também. Ambos já estavam suados desde a batalha da manhã, e agora, estavam mais ainda.
Vigésimo quinto andar. Agora não mais conseguiam prosseguir; caso fossem subir, demorariam uma eternidade.
As pedras, então, começaram a tornar-se marrons ao invés de cinzas. Pareciam estar se aproximando. Pinturas semelhantes as da sala espaçosa começaram a aparecer; cavaleiros montados, princesas e príncipes casando-se, homens em batalha, e, também, magos. Em cada cômodo havia três pinturas, das quais uma possuía uma mulher. E dentre as três possuía uma maior que uma porta; e tinha também a normal.
No vigésimo sétimo andar, Will encontrou um quadro idêntico ao do mago que segurava uma esfera flamejante. Parou repentinamente, e Barton disse-lhe:
- Sei que essa pintura é igual à outra, mas vamos prosseguir. Mestre Ellis mandou-nos descer tudo isso apenas para nos exercitarmos, tenho certeza – ele virou para a escada. Mas Will não; aproximou-se da pintura, literalmente maior que uma porta, e, com força, puxo-a da parede. Viu-se uma porta de madeira, velha e desgastada, menor talvez que ele próprio.
Barton, ao virar-se novamente para chamar seu irmão, assustou-se ao ver aquilo.
- Que? – disse ele, indo até o lado de Will. Puxou a maçaneta da porta, que, aparentemente, estava trancada.
Mas Will não desistiu. Com seu pé, chutou-a com toda sua força. Chutou, chutou e chutou, até derrubá-la para o outro cômodo. Barton nada fez, a não ser vê-lo destruí-la.
Era um cômodo também de pedra, entretanto, sem portas ou escadas. Havia uma mesa de madeira no centro, cuja tinha ao redor quatro cadeiras também de madeira com panos escarlates sobre si. Na parede se via apenas pinturas relacionadas à magia: magos montados em dragão com cetros brilhantes, magos com exércitos de morto-vivos ao redor, magos ensinando a aprendizes... E dentre as outras várias que lá existiam.
Os irmãos aproximaram-se das cadeiras e sentaram-se. Barton suspirou fundo e disse:
- Você é muito bom, Will. Como teve a brilhante ideia de retirar o quadro? – ele riu.
Will sorriu, e então percebeu como realmente era, talvez, mais inteligente que o irmão.
- Apenas vi que como era igual à outra, devia estar escondendo algo.
- Estamos aqui há um dia, Will, e já descobrimos um segredo.
“Eu descobri um segredo”, Will teve vontade de dizê-lo. Mas preferiu abster-se.
- Magia... Por que quadros de magia? – Will olhou ao redor; via todos aqueles quadros que, talvez, pertenceram a Era da Magia.
Barton deu de ombros.
- É apenas para decorar. Este castelo é antigo. O último restante em Alestan desde a Era da Magia, quando os magos tiveram vontade de destruir tudo isso. Mas não sabiam como subir aqui.
- Mas não pode ser apenas isso – Will virou-se para a mesa e apoiou seus braços. – Sei que em Alestan a magia não existe, mas há uma possibilidade de ter existido ou existir. Pense bem: a Grande Guerra, que o pessoal daqui iniciou, devia ter um propósito. Duvido que tenham guerreado apenas para destruir a magia. Eles queriam-na para si.
- Mesmo que este tenha sido o objetivo, o Castelo do Céu não teve nada a ver – disse Barton, tentando possuir razão.
- Pelo contrário – disse Will, tendo uma ideia. Barton odiava-o quando isso acontecia. – Barton, o castelo é o único que não foi destruído. Ambos os outros foram. É suspeito, não acha?
Barton olhou-o nos olhos, impressionado.
- Talvez você tenha razão. Mas acha que aqui tenha algo relacionado à magia?
Will gargalhou.
- Claro! Olhe bem para esta sala. Há algo escondido, tenho toda certeza.
Barton, mesmo curioso, queria deixar o assunto de lado.
- Vamos sair daqui, Will. Acho melhor...
Will ignorou-o e pôs-se de pé. Começou a retirar ambos os quadros, um por um. Primeiro, o quadro dos mortos-vivos, em seguida o do mago montado no dragão, o do mago e os aprendizes, o do mago com um arco brilhante... Barton tentou hesitar em ajudá-lo por um momento, até que Will chamou-lhe com um gesto. O irmão obedeceu.
Magos com espadas mágicas, magos com chifres, magos com árvores vivas seguindo-lhes. Eram todos quadros assustadores.
Will retirava quadros de um dos lados, e Barton, do outro. Quando chegaram à última das pinturas de ambos os lados, perceberam que eram iguais: um simples livro roxo. A capa possuía uma mão segurando uma esfera de fogo.
- São iguais – disse Barton. – Significa algo para você?
- Não – respondeu Will, sorrindo. - Mas não importa. Não encontramos nada por trás destes quadros – ele olhou ao redor, tentando encontrar algo que estivesse por trás das pinturas.
Barton, então, devolveu o último quadro a parede e disse:
- Vamos sair daqui, então. Já vimos o bastante – ele aproximou-se da porta destruída. – Vem comigo?
- Tudo bem. Mas este quadro é mais grosso – ele mostrou ao irmão seu quadro, que, realmente, era mais grosso que os outros. Parecia uma pasta pintada; Will levou-o até o outro quadro idêntico, o qual seu irmão pendurou novamente, e viu que apenas ambos eram grossos. – Será que tem algo por dentro deles? – ele atirou os dois ao chão, e desembainho sua espada de madeira presa ao seu cinto. Com fortes e lentos movimentos, bateu no primeiro quadro; nada aconteceu, a não ser um estrondo que ressoou por seus ouvidos. Barton, preocupado de alguém lhes ver, disse:
- Vamos, Will! Esqueça isso!
Mas Will ignorou. Continuou a destruir a pintura, batendo e batendo. No entanto, quando terminou, ouviu-se apenas também um barulho como recompensa.
Olhou para o outro quadro pintado com o livro e começou a bater. Barton olhava para trás e depois para Will, pressentindo que alguém chegaria, mas Will apenas continuava a devastar.
Quando bateu pela terceira vez no quadro, percebeu algo duro. Tirou a pintura com a mão e pegou algo escondido no fundo. Era um livro. O mesmo da pintura.
- Barton, olhe isso! – ele mostrou ao irmão o livro, sorrindo de felicidade. – Deuses! Agora temos magia!
- Vem vindo alguém – disse-lhe Barton. – Esconda isso, rápido!
Will rapidamente retirou-se do cômodo, logo depois de seu irmão, e guardou o livro sob sua camisa. Penduraram a pintura que escondia a porta no lugar, e rezaram para que seja lá quem fosse que estivesse vindo não abrisse a porta. Estava tudo desorganizado; e o livro, roubado.
Desceram até o vigésimo oitavo andar, e lá esperaram a tal pessoa. “Eles pensam que podem me enganar, Amalric. Eu os levei para o salão, e lá eu também fiquei. Vi-os descendo a escadaria. Não sei por que ainda não subiram”, eles escutaram. Era Mestre Ellis. “São novatos. Todos os novatos são bobos, senhor. Exceto a mim. Eu não fui bobo; venci todos os que batalharam conosco, e vencerei este dois” Amalric disse.
Quando eles chegaram ao vigésimo oitavo andar, assustaram-se. Logo, o mestre disse:
- Já estavam subindo? Era hora! Pensariam que me enganariam como Godart disse-lhes para fazer. Mas não funciona – ele gargalhou. Amalric imitou-o.
- Não sejam bobos – disse Amalric: era loiro e magricelo, e tinha uma pele branca. Muito branca. Os olhos, ao menos, eram negros. – O mestre não é enganado.
- Desculpem-nos – disse Barton. – Apenas queríamos descobrir logo.
- Não importa. Já descobriram, e agora, subirão. Amalric e seus amigos lhes mostrarão algumas técnicas – ele virou-se para a escada. – Venham logo! – ele a subiu, deixando os três aprendizes a sós.
- Não me desrespeite, fracos, e também nenhum de meus amigos – disse Amalric com desdém. – Não toleramos medíocres como vocês. Se me escutarem, se tornarão fortes – ele pôs um pé no degrau de pedra. – Vamos.
Will e Barton trocaram olhares, e gargalharam em seus pensamentos. “Mostrarei a ele como sou medíocre” murmurou Will, seguindo-o.
Capítulo 5:
- Spoiler:
- Quando os três aprendizes finalmente terminaram de subir os vinte e oito andares, suspiraram profundamente. Amalric ainda olhava Will e Barton com um olhar maléfico; parecia realmente não gostar de ambos.
Enquanto caminhavam em direção à área de treinamento, Amalric disse-lhes:
- Ouvi dizer que foram treinados por um Espadachim do Oeste. Mas eles são fracos, comparados aos Lâminas Dançantes. Por isso, não pensem que já possuem noção de nossas técnicas – eles saíram do corredor rochoso, e todos os que antes comiam nas mesas já haviam se retirado.
- Mas possuímos noção de como usar uma espada. Aqui usamos espadas, também – disse Barton. – As técnicas dos dançantes e a dos espadachins não são tão distintas, entretanto.
Amalric bufou, e parou no meio do caminho.
- Só porque usam espadas não são distintas?
- É claro – Barton sorriu.
- Digo nas questões de técnicas! – disse Amalric, que talvez possuísse razão. – Será que compreende?
Barton pôs a mão no ombro do aprendiz e disse:
- Mesmo que por assim seja, um Espadachim do Oeste pode vencer-nos. Disse que são fracos comparados a nós. Por quê?
- Não há honra em você, Barton – Amalric disse-lhe, retirando a mão de seu ombro com rudez. – Se diz isso é pelo motivo de não acreditar em si mesmo e em suas capacidades. Um Lâmina Dançante não pensa em perder. Apenas em ganhar.
- Mas por isso são fracos comparados a nós? – perguntou-lhe Barton.
- Se você é um verdadeiro dançante, eles são fracos comparados a você – explicou Amalric. – Pois você não pensa em perder, como dito antes. Agora entende?
Barton assentiu com um gesto de cabeça, e voltou a segui-lo em direção a área de treinamento. “Ao menos, consegui irritá-lo”, pensou orgulhoso de si próprio. “Não é tão duro como pensei”.
Olhou para Will: permanecia em silêncio, e parecia estar mergulhado em um mar de pensamentos. No entanto, Barton nada disse a ele. Deixou-o quieto e voltou a seguir Amalric – era um garoto já criado desde criança sob o teto do castelo, e que não teve uma infância difícil como a deles.
O pai trabalhava com a venda de diversas mercadorias na cidade de Bricet, e Amalric via-o raramente. Sua mãe, entretanto, havia sido há pouco morta de uma doença que desconhecia, ao lado do pai, na cidade.
Quando nasceu, seus pais eram amigos de Mestre Godric, o qual ainda lá permanecia. Por conta disso, durante a Invasão dos Loucos em Bricet, ele chamou-lhes para permanecer no castelo, até que tudo acabasse.
Mesmo que pretendessem sair logo quando a invasão terminasse, permaneceram lá até Amalric completar doze anos. Ambos então partiram para a cidade de Bricet, deixando-o sozinho com Mestre Godric.
Desde este momento, viveu sendo treinado sob as técnicas dos dançantes. Já era um veterano comparado a todos de sua idade; o único que lhe ultrapassava era Godart, cujo era filho de um mestre que morrera ao cair da Trilha das Almas.
A mãe havia sido uma mulher pobre da Praia Vermelha, que o pai ousou levar ao Castelo do Céu. Ela ainda permanecia viva, porém em sua distante casa na praia.
Entraram no corredor até a área de treinamento, e permaneceram calados desde a conversa anterior. “Só piorou nosso relacionamento com ele, Barton”, pensou Will, com razão.
Mestre Ellis já estava lá, ensinando dois garotos num dos bonecos. Godart estava duelando com um aluno, aparentemente inferior a ele.
- Vê aquele homem ao lado de Mestre Ellis, treinando um garoto? – ele apontou para o homem: possuía longos cabelos negros, e um olho castanho. O outro, entretanto, era branco. Provavelmente era cego. – Ele é Mestre Godric, a pessoa que considerei um pai.
Ele voltou a andar, em direção a dois garotos: um calvo e um de cabelos loiros que desciam até os ombros. Os olhos de ambos eram negros; eram idênticos.
- O calvo chama-se Broadwin Slade – ele pôs a mão no ombro do garoto. – Este loiro chama-se Aagon Lemon. São meus amigos. Conheçam Barton e Will, os novatos – ele virou-se para os irmãos, com um sorriso.
- Os irmãos novatos – disse Aagon, aproximando-se deles. – Gostaria de ver do que são capazes.
Broadwin riu.
- Vamos treiná-los. Seria melhor. Não é bom lutar logo no início. A vergonha seria muita! – ele colocou a ponta de sua espada de treino na testa de Will. – Você provavelmente é Will, certo? Disseram-me que era menor que Barton – ele novamente riu.
Will desviou a ponta da espada de sua testa com a mão, e logo pôs sua espada contra a de Broadwin.
- Vamos treinar.
- Will? Que vai fazer? – perguntou Barton. – Treinar é com os bonecos, não com superiores!
Broadwin empurrou Barton com um braço, e levou Will até o centro da sala. Olharam-se bem nos olhos um do outro. Will percebeu que Broadwin radiava de raiva; ele, portanto, permanecia calmo. “Um lâmina dançante vira uma espada ao lutar. Precisa esquecer-se de tudo” ele lembrou-se. E Broadwin fazia totalmente o contrário; desejava apenas destruir Will. Queria fazê-lo passar vergonha.
Repentino, Broadwin iniciou com o primeiro ataque. Will desviou-se agilmente do corte diagonal com um pulo. Correu em direção a Broadwin e fez um corte à frente, rezando para que acertasse. Mas ele desviou com a espada e chutou a barriga de Will, obrigando-o ir para trás.
Voltaram-se a se olhar, enquanto rodeavam-se. Will, então, segurou a espada de treino com ambas às mãos e correu em direção a ele, e atacou com tudo que conhecia. Corte à frente, corte diagonal, corte à esquerda, à direita... Mas Broadwin possuía tanta eficiência para defender quanto Barton.
Broadwin abaixou-se, e Will tombou para frente ao dar um ataque. Will desviou do ataque dele com um pulo, e novamente equilibrou-se.
Desta vez, Broadwin atacou-o com tudo que sabia. Eram ataques muito velozes, no entanto, ele cansava demasiadamente mais que Will, que apenas defendia.
Will então o imitou. Abaixou-se rapidamente, fazendo-o tombar. Mas ao invés de levantar-se para atacá-lo, permaneceu abaixado e acertou-lhe o joelho. Ele não caiu, mas Will estava ganhando.
- Nada mal. Nada mal mesmo – disse Amalric à Barton. – Seu irmão tem potencial. Disseram que você é ainda melhor. Fiz errado ao duvidar de vocês.
E era verdade. Will havia melhorado muito. Tudo por culpa de seu duelo com o irmão. Ele tinha certeza que era graças a Barton.
Quando desviou novamente de um ataque de Broadwin, viu um problema surgir: o livro estava escorregando de sua camisa. Não teve outra escolha a não ser correr. Desviou o olhar de Broadwin e correu até o corredor.
Tirou o livro de sua camisa e guardou-o em sua calça. Logo em seguida Broadwin apareceu.
- Irá correr? Lute como um homem! – ele atacou Will pelas costas que, mesmo assim, desviou-se numa imensa facilidade. Chutou Broadwin por trás do joelho e o fez cair. Com seu pé, novamente chutou-o, desta vez pelas costas, fazendo-o cair de cara no chão. Ele sentou-se rapidamente, e rastejou até a parede.
- Você me pegou desprevenido! Você não é forte!
Quando ele disse isto, Amalric, Barton e Aagon, chegaram ao corredor. Amalric não pôde acreditar quando viu Broadwin perder para um novato; ele agora não duelaria com Will ou Barton, nunca. E Aagon provavelmente também não o faria.
Amalric aproximou-se de Broadwin e deu-lhe a mão para que levantasse. O aprendiz recusou e desviou a mão do amigo com um soco, e pôs-se de pé num pulo.
- Ele me pegou desprevenido. Não pode me ganhar.
- Ele já ganhou – corrigiu Barton. – Isso porque foi treinado por um Espadachim do Oeste. Já tem noção de como lutar.
Amalric bufou, mas não respondeu.
- Vamos, Broadwin. O corredor não é lugar para lutar.
Os três amigos voltaram para a área de treino, mas Barton e Will permaneceram lá. Barton olhou o irmão nos olhos.
- Você lutou bem, irmão. Apesar de mim ainda lhe vencer! – ele sorriu.
- Eu não venceria se não fosse por você, Barton. Aprendi isso ao lutar com você, mais cedo. Lembra-se?
Neste momento, Barton sentiu-se feliz. Seu irmão pela primeira vez havia feito algo semelhante a ele, e isso porque o ensinou sem saber.
Barton então se lembrou do encontro que devia ter com Catherine.
- Eu preciso encontrar... – ele foi impedido por Godart, que apareceu no corredor:
- Mestre Godric e Mestre Ellis organizarão uma cavalgada até o vilarejo da Floresta do Carvalho. Há um grupo de saqueadores o aterrorizando, e eles querem levar-nos para uma batalha.
Tudo o que Barton pretendia então fora por água abaixo. Quando voltasse, estaria devendo a Cat uma explicação.
Capítulo 6 ---S2---:
- Spoiler:
- Todos os aprendizes estavam reunidos na área de treinamento. Mestre Ellis e Mestre Godric iriam explicá-los sobre a cavalgada até a Floresta do Carvalho, que breve fariam. Era um lugar distante, e não havia ninguém lá que não soubesse; com exceção de Will e Barton. Não conheciam muito Alestan por fora dos mapas.
- Sei que pode não parecer uma boa hora para fazermos isso, pela chegada de nossos dois novos aprendizes – Mestre Godric contemplou os dois irmãos. – Barton e Will. Sou Mestre Godric, garotos. Do mesmo modo como não me conhecem, não conhece metade dos aprendizes. Mas isto agora não vem ao caso. A Floresta do Carvalho foi invadida por saqueadores, e eu juntamente com Ellis pretendemos levá-los para uma batalha.
As palavras provocaram um frio em todos os alunos lá presentes. Poderiam morrer. Mas eram Lâminas Dançantes; não podiam temer a morte.
- Não retruquem nossas vontades – Ellis prosseguiu para o outro mestre –, irão sim conosco, mesmo que precisem ser levados amarrados a um cavalo. Como Lâminas Dançantes não devem temer coisas deste tipo. Provavelmente a Floresta do Carvalho foi invadida por saqueadores que jamais tiveram a sorte de aprender a lutar como vocês; talvez haja um que saiba, porém não mais que isso. Preparem suas coisas, pois partiremos logo.
A multidão que rodeava os mestres se desfez num segundo, e apenas Will e Barton permaneceram nos lugares.
- Droga, Will, eu devia me encontrar com Catherine! – disse Barton. – E se eu morrer, e não puder nem ao menos pedi-la desculpas?
Will gargalhou ao perceber o desespero do irmão.
- Nós dois iremos voltar. E você pode pedir desculpas agora, se preferir.
- Onde ela poderia estar? Ajude-me, Will.
- Agora é o entardecer. Deve estar a sua espera para levá-lo ao jardim.
Barton sentiu esperanças naquele momento; talvez houvesse alguma chance de ainda ir ao jardim com Cat.
- Vá arrumar nossas coisas – ele pediu a Will –, voltarei em breve – sem ao menos escutar as palavras de seu irmão, saiu às pressas da área de treino. No caminho, atirou sua espada de treino no corredor rochoso e prosseguiu até o salão.
Revistou todas as mesas, com toda atenção possível. Mas Cat não estava em nenhuma; pensou se ela havia esquecido ou desistido dele.
Barton realmente gostava de Catherine. Conseguia imaginar um futuro ao lado dela, mesmo que eles pouco tivessem conversado. Teriam filhos saudáveis e fortes, prestes a se tornarem Lâminas Dançantes. Morariam no Castelo do Céu, sob a proteção das Montanhas Esquecidas; teriam uma vida linda, desde o início ao fim.
Mas eram pensamentos. Barton perguntava a si próprio se sonhar poderia ser ruim, ao menos uma vez.
Quando havia perdido suas esperanças, uma voz suave e doce chamou-lhe por trás:
- Está adiantando – ele virou-se: viu Cat. Estava linda e completamente arrumada: trajava um vestido de seda azul, com detalhes dourados em algumas regiões. Os cabelos loiros haviam sido trançados, e estavam lindos; mesmo que Barton os preferisse soltos.
- Cat – exclamou ele. – Eu... Pensei que não viria.
- Normalmente os homens que fazem isto – ela sorriu. – Mas as mulheres não.
Ele aproximou-se dela. Cheirava rosas; era um ótimo aroma.
- Arrumou-se tão bem apenas para me mostrar o jardim?
Ela riu.
- Bem, acho que sim. Bem, siga-me – ela disse. Aquilo soou estranho para Barton; ela parecia não querer conversar. Subiram a escada até os quartos, enquanto caminhavam lado a lado. Ela, então, retirou da cabeça de Barton o pensamento de não querer conversar:
- Então, de onde vieram?
- De Osmond. Fomos enviados pelo Rei... – ela completou:
- Rei Siward. A maioria vem a pedido dele. Mas muitos são fraudes, que falsificam cartas. Sei que não é isto.
- Não sou – Barton mentiu. – Nunca faria algo do tipo – ele riu, quando se encontraram com a outra escada.
Seguiram em silêncio o resto das escadarias. Aquilo havia preocupado Barton. Caso ela descobrisse, ele acabaria morto.
Às vezes Barton percebia que ela olhava-o de relance. Ele gostava daquilo. Pensava se ela sentia o mesmo que sentia por ela. Tinha certeza de que aquilo era amor, um verdadeiro amor, que nunca antes pôde sentir.
Parte das pessoas que passavam por perto se fixavam a observá-los. “É realmente uma garota tão difícil de conquistar?” pensou Barton, enquanto caminhavam ao longo de um dos corredores, “acho que nossos destinos estão traçados, para eu consegui-la tão facilmente. Sentimos amor um pelo outro”. Ele tentava parecer confiante; e aparentava estar conseguindo.
Quando alcançaram o último corredor, um portão de madeira surgiu em meio a duas portas de dois cômodos.
- É ali – Cat apontou. Barton, sem pensar uma segunda vez, correu até o portão e puxou-o. Abriu-se numa imensa facilidade.
Catherine adentrou primeiro, como Barton achou educado fazer. Fechou o portão e olhou para o jardim: deparou com o lugar mais belo que seus olhos já viram. Era uma sacada larga, que estendia até longe das paredes do castelo. Havia lá diversas árvores: carvalhos, amoreiras, aroeiras, cedros, pau-brasil... Eram ambas lindas. Pareciam serem intocadas por humanos. No centro, havia um pequeno lago, com a água transparente como vidro; nele havia peixes, que nadavam ao lado da borda e formavam um redemoinho.
A grama era verde como folha. Arbustos em forma de diversas coisas também se encontravam espalhados pelo local: alguns tinham formas de dragões, cavalos, gatos, cachorros, espadas... Parecia um lugar consagrado, embora Barton soubesse que não fosse.
No fim, haviam cercas de proteção feitas de pedra. E lá Cat levou Barton. De lá, Barton pôde ver a verdadeira beleza daquele lugar. Observava as Montanhas Esquecidas do alto do mundo. O Sol já descia em direção as montanhas do Oeste, por trás da ponte que haviam passado um dia antes. “Um dia... e conheci a melhor pessoa deste mundo”, pensou Barton.
Olhou para Cat. Ela olhava para o horizonte, com os olhos brilhando.
- É realmente belo – disse Barton. – Nunca pensei que existisse algo dessa tamanha beleza no mundo.
- O pôr do Sol torna-o lindo. Barton... – ela não continuou. Parecia relutante.
- Cat, eu acho que... Gosto... De você. – Ele conseguiu terminar a frase. “Deuses, que eu fiz?” ele pensou. Perguntou a si se havia apenas piorado tudo. – De um modo diferente. Nunca senti algo com outra pessoa – continuou, tentando retirar as palavras anteriores.
Cat, pela primeira vez, corou. Barton achou que ela tivesse realmente achado-o burro de ter dito aquilo. No entanto, ela disse:
- Eu também gosto de você, Barton. Você é diferente.
As cabeças aproximaram-se, lentamente. “Não devo fazê-lo” Barton pensou. Era uma fraude; coisa que Cat odiava. Ela o disse. Não poderia esconder aquele segredo para sempre.
Levou seus dedos aos lábios de Catherine e disse:
- Não posso. Eu sou...
Ela abaixou a mão de Barton.
- O que é?
- Sou simplesmente uma fraude, como você disse... Eu não fui enviado por Rei Siward. Eu sou órfão. Meus pais foram decapitados numa aldeia em Osmond, quando eu e Will éramos crianças. Fugimos para Bricet com um barco roubado, e com nosso pouco dinheiro, conseguimos viver lá por algum tempo. Um Espadachim do Oeste, então, nos ensinou suas técnicas. Eu não sou nada que pensa. Desculpe, Cat.
Naquele momento, tudo o que pensara fora realmente por água abaixo. Virou-se para o portão e caminhou lentamente em sua direção.
“Adeus, Cat... Amarei você, sempre. O que senti por você não acontecerá com mais ninguém. Você foi diferente”. Ele olhou o redemoinho que os peixes criavam; pareciam representar a besteira que acabara de fazer. Pensou se também destruíra todo o treinamento como Lâminas Dançantes, seu e de seu irmão.
“O que eu fiz?! O que eu acabei de fazer por culpa dela?!” ele tentava deixar de se culpar. Mas não funcionava. Ainda a amava. Sabia que em breve terminaria como seus pais: teria a cabeça cortada pelo próprio Mestre Ellis, com a imensa vontade que ele provavelmente teria.
Quando tocou o portão, a voz doce e suave voltou a chamá-lo:
- Barton – ele virou-se. Ela estava em sua frente, vermelha como uma pimenta. – Eu ainda o amo. Não deixarei uma carta falsa nos separar.
E Barton viu-se como sorte, naquele momento.
- Eu também amo você, Cat. Não queria deixar de amá-la por isso.
Eles olharam-se, um nos olhos dos outros, como no almoço. Mas desta vez era diferente. Agora se amavam, uns aos outros.
Os lábios tocaram-se levemente, e as línguas se encontraram. Era um beijo. Um beijo de amor.
Última edição por FilipeJF em Ter Set 25, 2012 6:10 pm, editado 2 vez(es)