Escrito por Kazuyashi em 23/03/2012
OBS: Contém palavras de baixo calão. Se você possui algum pudor com relação a isso, por favor, peço para que não prossiga na leitura.
OBS²: O texto é uma mescla de linguagem formal e informal. Às vezes o informal pode se tornar mais informal ainda.
OBS³: As palavras em itálico são: ou palavras de origem estrangeira, ou neologismo, ou citação entre aspas.
OBS[4]: Este texto foi escrito enquanto exercia o cargo “redator” da comunidade Centro RPG Maker.
Estava hoje no ônibus, voltando para a casa, quando comecei a pensar sobre o que escrever para o fórum. Assumi o posto de redator da comunidade há alguns dias, porém sequer elaborei uma única matéria. Após algumas várias matutações, idéias mil percorrendo à minha cabeça e buzinas irritantes e descompassadas no engarrafamento caótico do Rio de Janeiro, concluí que não tinha assunto nenhum para tratar. Ou melhor, assunto tinha: poderia entrevistar algum maker, fazer um review de um projeto qualquer, buscar novidade qualquer que fosse, e uma infinidade de outras possibilidades. Mas a questão, meu amigo leitor, é que eu não queria abordar nada daquilo. Queria fugir daquilo. Queria me desligar completamente daquilo. Falava para mim mesmo: “Fala sério, zé mané! Todo mundo faz aquilo. Faça algo diferente, porra!” E eu estava, realmente, quase buscando soluções aleatórias que me proporcionariam uma inovação insana e desconhecida. Algo que poderia revolucionar a forma como as comunidades makers faziam suas matérias. Algo que ficaria na história como a mais bem articulada idéia já concebida por um reles escritor. Algo que...
BII! BIII! BIIIIIIIIIII! – Entenda “bi” como referente à buzina –...
“CARALHO! Perdi a porra da idéia!”... – era tudo o que eu pensava naquele momento.
“CARALHO! Perdi a porra da idéia!”... – era tudo o que eu pensava naquele momento.
A idéia me havia escapado da mesma forma que me havia surgido: do nada e em uma fração de segundo. Acontece que depois disso, meu amigo leitor, eu fiquei puto. E eu fiquei muito puto mesmo! Mas essa minha putacidade não foi ruim. Sou grato a essa buzina filha da puta que me fez perder a idéia. Sou grato por que sei que esta idéia, taxada por mim como completamente inovadora, seria impossível de suscitar. Seria impossível pelo fato de que nada é completamente inovador. Não há razão tentar criar algo completamente inovador. Não há razão e não há meios de se criar algo completamente inovador. É impossível para mim, para você e para o mundo. E isso me fez pensar que não havia razão para não abordar assuntos que são do meio comum.
Com medo de perder mais alguma idéia, tal como um pistoleiro sacando a sua arma, saquei o meu caderno do Flamengo e uma caneta BIC das mais vagabundas da mochila, pondo-me a escrever. Escrevi sobre algo que eu há muito gostaria de abordar. Sobre um assunto já muito discutido e clichêrizado, que é o próprio assunto “Clichê”.
No primeiro parágrafo do meu texto feito à base de tremeliques ônibuzais, escrevi: “Não invente indiscriminadamente. Você não precisa criar uma coisa completamente nova. É impossível criar algo completamente novo, tendo em vista que tudo que criarmos será baseado em criações já existentes. Não é difícil concluir que, com base nisto, tudo que existe é clichê. E isto mesmo que seja um clichê ‘inovador’. Portanto, se a idéia que você tem em mente já foi usada e abusada, por favor, meu amigo... continue usando e abusando dela!”
Após alguns outros tremeliques, e antes que eu pudesse continuar escrevendo o meu texto, escutei uma menina– Menina incrivelmente GOSTOSA, diga-se de passagem – que estava sentada ao meu lado falando ao celular. Ela estava conversando com alguma amiga, e a conversa, vou tentar sintetizá-la aqui para vocês: “Ai, amiga, eu estou sozinha por opção, sabe... Eu quero um homem que me complete. De verdade. Quero um homem que seja romântico, carinhoso, inteligente, de bem com a vida... Um homem que me dê flores sem precisar de uma ocasião especial para isso. Quero um homem que me escute sempre, que construa uma vida comigo, que diga ‘eu te amo’ sem medo de se achar idiota por isso... Ele não precisa ter beleza física, ser atlético, nada... Eu só quero que ele seja a pessoa mais incrível do mundo pra mim... Quero que ele seja...” e blá, blá, blá. Ela enveredou-se a falar neste comum pensamento feminino. Eu dei uma de fofoqueiro, larguei um pouco a caneta e fiquei a ouvindo falar sobre o mesmo assunto por vários minutos com a amiga. Juro para vocês que estava quase interrompendo a conversa das duas e falando: “Prazer. Homem feio, porém completo, de verdade, romântico, carinhoso, inteligente e feito sob medida pra você, SUALINDA” – Ela era MUITO gostosa – mas decidi me abster.
Com o passar do tempo, outros assuntos entre as duas foram levantados, quando, então, em determinada parada do ônibus, atravessa a roleta um cara sem camisa. Vocês acreditam que a gostosa do meu lado teve a petulância de dizer para a amiga: “Nossa, amiga... passou um gostoso aqui agora que só Deus! Ô esse homem lá em casa, heim?! Ia deixar ele louco! Nossa, ele é todo sarado, atlético, bonito... Por que eu não acho um homem assim, amiga?” ?!
Juro para vocês que aquela situação me deixou igualmente puto e descontraído. Puto por que a mina era uma hipócrita, escrota e vadia. Descontraído por que ela era uma hipócrita, escrota e vadia. Tive que rir, mesmo que internamente. Fiquei imaginando o quanto de tempo havia desperdiçado ouvindo aquela conversa, embora ela também houvesse me dado uma idéia. E essa idéia se estenderia por alguns parágrafos do meu texto sobre o clichê. Segurei firme a caneta e pus-me a continuar escrevendo. Ficou assim: “As pessoas são hipócritas. As pessoas são totalmente irônicas. E ironia que digo é na real acepção da palavra, que nos traz à tona o significado de ‘contraditórias’. As pessoas são contraditórias. Todas dizem não gostar do clichê e querer fugir dele em absoluto, quando, na verdade, por trás da cena, elas o idolatram. Elas amam o clichê, de verdade.”
Escrevendo com letras garranchais, dignas de causar inveja a qualquer médico do mundo, e acrescentando os solavancos nada agradáveis do ônibus, passei para o próximo parágrafo: “Posso pautar a minha tese em um fenômeno real e do cotidiano: A novela televisiva. Não assisto novela, mas o desenrolar e desfecho dela são totalmente intuitivos. Sei que toda novela, não importando o pseudo-assunto que ela finja tratar, sempre terá um triangulo amoroso, um personagem estupidamente bom e inocente (que pode pertencer ao triangulo amoroso citado acima ou não), que sofrerá a trama inteira e encontrará a paz somente no último capítulo. Terá também um vilão extremamente cruel, usufruidor dos meios mais ridicularmente manjados para fazer o personagem bonzinho sofrer e o espectador se contorcer de raiva. E, no final da série, este vilão poderá ainda se tornar um bom moço (moça) ou morrer incendiado (a) ou por tiros (as) – Usei dicotomia no ‘tiros’ de brincadeira. Odeio usar dicotomia – E por que toda novela é igual? Simplesmente por que o público que a assiste prefere assim. As pessoas, de modo geral, não gostam e não estão acostumadas a mudanças. Então, por mais diferente que seja o enredo da série, ele, após algumas enquetes de audiência, será completamente distorcido e modificado em seu decorrer. Simplesmente material novo não dá audiência. O que dá audiência é o bom e velho clichê.”
Meu texto pró-clichê estava ganhando forma. Eu tinha ciência que não estava ficando bom, mas decidi continuá-lo. Pior que eu ainda me permitir dar algumas viajadas, o deixando mais sem noção ainda. E não, meu amigo leitor, antes que você pergunte: eu não uso drogas. O parágrafo se sucedeu da seguinte forma: “O mesmo acontece com a nossa linda história clichê. Não a mude por completo! Simplesmente terá trabalho em vão. Primeiro por que você não vai conseguir criar algo novo em essência e vai se matar tentando fazer isso. Mas, como por regra, toda regra tem uma exceção, supondo que você consiga criar algo completamente novo, certamente não terá público algum para assisti-la e contemplá-la. Portanto, não abandone o clichê. Pense no clichê como se fosse o seu filho! Você abandonaria o seu filho? Ele pode se sentir mal, se zoado pelos colegas por ser careta, feio, sem estilo... realmente pode se configurar um quadro de bullying e seu filho querido entrar em depressão. Mas você abandonaria o seu filho por conta disso? Você deveria ajudá-lo a melhorar, a dar a volta por cima. Deveria comprar roupas novas para ele, dar um trato em seu visual e deixá-lo a coisa mais fofa do mundo. Com isso, os colegas não mais implicariam com ele e pode até ser que ele consiga uma namoradinha. Seu filho clichê entrará em harmonia com a vida, com o resto do mundo. Entretanto, por mais diferente que possa estar, ainda seria o seu filho. Ainda seria, em essência, o menino que você colocou no mundo. Por isso, pais, não abandonem os seus filhos clichês.”
Terminei de escrever. Estava, naquele momento, convicto de que tinha escrito o texto mais lixo que eu poderia em toda a minha vida. E justamente sobre um assunto que eu sempre quis escrever. Meu dia não estava bom, e eu escrevi algo menos bom ainda. Fechei e guardei o caderno, guardei o lápis, desci do ônibus e tomei meu caminho para casa.
“Espero que da próxima vez consiga escrever um texto e uma matéria decente” – Foi o que pensei, enquanto observava a gostosa e o cara sem camisa saindo de mãos dadas do ônibus e indo sabe-se lá para onde e que fica a cargo da imaginação de cada um.
Com medo de perder mais alguma idéia, tal como um pistoleiro sacando a sua arma, saquei o meu caderno do Flamengo e uma caneta BIC das mais vagabundas da mochila, pondo-me a escrever. Escrevi sobre algo que eu há muito gostaria de abordar. Sobre um assunto já muito discutido e clichêrizado, que é o próprio assunto “Clichê”.
No primeiro parágrafo do meu texto feito à base de tremeliques ônibuzais, escrevi: “Não invente indiscriminadamente. Você não precisa criar uma coisa completamente nova. É impossível criar algo completamente novo, tendo em vista que tudo que criarmos será baseado em criações já existentes. Não é difícil concluir que, com base nisto, tudo que existe é clichê. E isto mesmo que seja um clichê ‘inovador’. Portanto, se a idéia que você tem em mente já foi usada e abusada, por favor, meu amigo... continue usando e abusando dela!”
Após alguns outros tremeliques, e antes que eu pudesse continuar escrevendo o meu texto, escutei uma menina– Menina incrivelmente GOSTOSA, diga-se de passagem – que estava sentada ao meu lado falando ao celular. Ela estava conversando com alguma amiga, e a conversa, vou tentar sintetizá-la aqui para vocês: “Ai, amiga, eu estou sozinha por opção, sabe... Eu quero um homem que me complete. De verdade. Quero um homem que seja romântico, carinhoso, inteligente, de bem com a vida... Um homem que me dê flores sem precisar de uma ocasião especial para isso. Quero um homem que me escute sempre, que construa uma vida comigo, que diga ‘eu te amo’ sem medo de se achar idiota por isso... Ele não precisa ter beleza física, ser atlético, nada... Eu só quero que ele seja a pessoa mais incrível do mundo pra mim... Quero que ele seja...” e blá, blá, blá. Ela enveredou-se a falar neste comum pensamento feminino. Eu dei uma de fofoqueiro, larguei um pouco a caneta e fiquei a ouvindo falar sobre o mesmo assunto por vários minutos com a amiga. Juro para vocês que estava quase interrompendo a conversa das duas e falando: “Prazer. Homem feio, porém completo, de verdade, romântico, carinhoso, inteligente e feito sob medida pra você, SUALINDA” – Ela era MUITO gostosa – mas decidi me abster.
Com o passar do tempo, outros assuntos entre as duas foram levantados, quando, então, em determinada parada do ônibus, atravessa a roleta um cara sem camisa. Vocês acreditam que a gostosa do meu lado teve a petulância de dizer para a amiga: “Nossa, amiga... passou um gostoso aqui agora que só Deus! Ô esse homem lá em casa, heim?! Ia deixar ele louco! Nossa, ele é todo sarado, atlético, bonito... Por que eu não acho um homem assim, amiga?” ?!
Juro para vocês que aquela situação me deixou igualmente puto e descontraído. Puto por que a mina era uma hipócrita, escrota e vadia. Descontraído por que ela era uma hipócrita, escrota e vadia. Tive que rir, mesmo que internamente. Fiquei imaginando o quanto de tempo havia desperdiçado ouvindo aquela conversa, embora ela também houvesse me dado uma idéia. E essa idéia se estenderia por alguns parágrafos do meu texto sobre o clichê. Segurei firme a caneta e pus-me a continuar escrevendo. Ficou assim: “As pessoas são hipócritas. As pessoas são totalmente irônicas. E ironia que digo é na real acepção da palavra, que nos traz à tona o significado de ‘contraditórias’. As pessoas são contraditórias. Todas dizem não gostar do clichê e querer fugir dele em absoluto, quando, na verdade, por trás da cena, elas o idolatram. Elas amam o clichê, de verdade.”
Escrevendo com letras garranchais, dignas de causar inveja a qualquer médico do mundo, e acrescentando os solavancos nada agradáveis do ônibus, passei para o próximo parágrafo: “Posso pautar a minha tese em um fenômeno real e do cotidiano: A novela televisiva. Não assisto novela, mas o desenrolar e desfecho dela são totalmente intuitivos. Sei que toda novela, não importando o pseudo-assunto que ela finja tratar, sempre terá um triangulo amoroso, um personagem estupidamente bom e inocente (que pode pertencer ao triangulo amoroso citado acima ou não), que sofrerá a trama inteira e encontrará a paz somente no último capítulo. Terá também um vilão extremamente cruel, usufruidor dos meios mais ridicularmente manjados para fazer o personagem bonzinho sofrer e o espectador se contorcer de raiva. E, no final da série, este vilão poderá ainda se tornar um bom moço (moça) ou morrer incendiado (a) ou por tiros (as) – Usei dicotomia no ‘tiros’ de brincadeira. Odeio usar dicotomia – E por que toda novela é igual? Simplesmente por que o público que a assiste prefere assim. As pessoas, de modo geral, não gostam e não estão acostumadas a mudanças. Então, por mais diferente que seja o enredo da série, ele, após algumas enquetes de audiência, será completamente distorcido e modificado em seu decorrer. Simplesmente material novo não dá audiência. O que dá audiência é o bom e velho clichê.”
Meu texto pró-clichê estava ganhando forma. Eu tinha ciência que não estava ficando bom, mas decidi continuá-lo. Pior que eu ainda me permitir dar algumas viajadas, o deixando mais sem noção ainda. E não, meu amigo leitor, antes que você pergunte: eu não uso drogas. O parágrafo se sucedeu da seguinte forma: “O mesmo acontece com a nossa linda história clichê. Não a mude por completo! Simplesmente terá trabalho em vão. Primeiro por que você não vai conseguir criar algo novo em essência e vai se matar tentando fazer isso. Mas, como por regra, toda regra tem uma exceção, supondo que você consiga criar algo completamente novo, certamente não terá público algum para assisti-la e contemplá-la. Portanto, não abandone o clichê. Pense no clichê como se fosse o seu filho! Você abandonaria o seu filho? Ele pode se sentir mal, se zoado pelos colegas por ser careta, feio, sem estilo... realmente pode se configurar um quadro de bullying e seu filho querido entrar em depressão. Mas você abandonaria o seu filho por conta disso? Você deveria ajudá-lo a melhorar, a dar a volta por cima. Deveria comprar roupas novas para ele, dar um trato em seu visual e deixá-lo a coisa mais fofa do mundo. Com isso, os colegas não mais implicariam com ele e pode até ser que ele consiga uma namoradinha. Seu filho clichê entrará em harmonia com a vida, com o resto do mundo. Entretanto, por mais diferente que possa estar, ainda seria o seu filho. Ainda seria, em essência, o menino que você colocou no mundo. Por isso, pais, não abandonem os seus filhos clichês.”
Terminei de escrever. Estava, naquele momento, convicto de que tinha escrito o texto mais lixo que eu poderia em toda a minha vida. E justamente sobre um assunto que eu sempre quis escrever. Meu dia não estava bom, e eu escrevi algo menos bom ainda. Fechei e guardei o caderno, guardei o lápis, desci do ônibus e tomei meu caminho para casa.
“Espero que da próxima vez consiga escrever um texto e uma matéria decente” – Foi o que pensei, enquanto observava a gostosa e o cara sem camisa saindo de mãos dadas do ônibus e indo sabe-se lá para onde e que fica a cargo da imaginação de cada um.