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    Além da Morte

    Nandikki
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    Mensagem por Nandikki Qui Jun 25, 2015 6:49 pm

    Nasci na primavera de 1945. 
    Morri no final do século vinte.
    Fechei os olhos e estava no vazio.
    O vazio era preto e cheirava muito mal.

    Logo percebi que era um caixão.
    A priore medo tive de sair.
    Pensei que morreria sufocado.
    Mas com um impulso transcedi.

    Estava em um cemitério abandonado.
    Minhas pernas tremiam e meus lábios congelavam.
    Contudo logo percebi que nem perna havia.
    Pois já estava no céu vendo a mocinha.

    A mocinha vestia azul e era gordinha.
    Era a única no cemitério.
    Ela olhava constante para o céu.
    Parecia conversar com a lua.

    O que tinha no céu?
    Me perguntei.
    Sem perceber já estava lá,
    Vendo a terra de tão longe.

    Vi pessoas com roupas estranhas.
    Estavam presos dentro de câmeras metálicas.
    Pareciam meio aflitas.
    Mas sorriam em vez de se desesperarem.

    Logo logo fui pra tão longe.
    Vi grandes bolotas e várias anãs.
    Lá estava eu perto de uma luminária.
    Uma grande bola luminosa de natal.

    Ouvindo conversas de estranhos 
    Eu entendi.
    Chamavam de estrela,
    Aquilo que eu vi.

    Escutei muitas conversas
    E li muitas coisas.
    Logo entendi onde estava.
    E que impossível era eu estar ali.

    Aprendi muito de química,
    Ao ver as estrelas queimarem.
    Os átomos ligavam-se entre si,
    E traziam a explosam ao acaso.

    Nunca tive a chance de estudar a física.
    Mas aqui a vejo na prática.
    Tão fabuloso as estrelas boiando no espaço.
    E estabilizando o trivial.

    Tive tanto tempo pra ver esses fenômenos
    Que me fascinei com suas formas
    Quantidades minúsculas mas fantásticas
    Era o mundo, que viam os matemáticos.

    Por falar em tempo
    Tanto tempo tive
    Que com tudo que aprendi
    Questionei o próprio tempo.

    Aprendi que nada é absoluto
    Ou inquestionável.
    Deuses caem como reis
    Como em revoluções ou guerras armadas.

    Por que não questionar o tempo?
    O rei dos reis, absoluto incontestável.
    Eu que desafiara deuses
    E o tempo, nem ousava.

    Pela primeira vez parcial
    Não fui espectador.
    Com tudo que aprendi
    O tempo me domou.

    Como um rebelde,
    Me rebelei.

    Com o tempo
    O tempo aprendi.

    Pelo tempo eu voltei
    Para o início do meu fim.

    E antes de morrer
    Essa carta escrevi
    Para alguém como você
    A encontre e seja feliz.

      Data/hora atual: Qui Nov 21, 2024 10:27 pm