Olá!
Já faz muito tempo desde quando pensei em escrever algo na linha de ficção cientifica. Isso foi em Janeiro, devo confessar, e somente em março decidi escrever o primeiro rascunho, que postarei aqui.
Estou há bastante tempo sem escrever, por isso, não reparem na tremenda diferença.
Espero que gostem.
OBS: Capítulos serão POV's (Point of view).
Já faz muito tempo desde quando pensei em escrever algo na linha de ficção cientifica. Isso foi em Janeiro, devo confessar, e somente em março decidi escrever o primeiro rascunho, que postarei aqui.
Estou há bastante tempo sem escrever, por isso, não reparem na tremenda diferença.
Espero que gostem.
OBS: Capítulos serão POV's (Point of view).
- Spoiler:
- A madrugada chegara fria e enevoada, e nenhum som podia ser escutado por entre os prédios redondos e luminosos. A cidade pairava sob um silêncio profundo e ensurdecedor. As pontes, construídas somente para a ligação dos prédios, estavam tremendamente sujas e prestes a cair no profundo abismo escuro que guardava a terra despovoada. Ninguém nunca ousou viver nos locais naturais do planeta, que nada tinham além de rochas e sujeiras que caíam da cidade. Eram com certeza lugares inóspitos e horríveis; entretanto perfeitos para certas ocasiões do Conselho e de facções criminosas.
Diante do assustador silêncio da noite, caminhava sobre uma das pontes uma figura encapuzada, que trazia em sua cintura uma lâmina de energia: uma antiga e extremamente poderosa adaga. O jovem seguia por um confuso labirinto de pontes, que continha mais sujeira que qualquer outro lugar que já visitara.
Embora conseguisse manter a tensão, sabia que havia algo de errado na cidade. Estava sozinho e assustado, juntamente com a combinação mortal do frio e silêncio que lhe presenteava com um penetrante frio na espinha. Apressou o passo no mesmo instante após sentir que alguém lhe seguia e agarrou o cabo da adaga. “Seja lá quem for, eu não hesitarei em atacar” murmurou. A cidade estava inteira escura e ninguém o veria cometer um assassinato. Pensando assim, achou que essa talvez não fosse uma má ideia. Então, rapidamente, levou o olhar sobre o ombro e tentou enxergar alguém; e por sorte, não viu ninguém. “É só o vento” pensou. “Assim é melhor”.
E finalmente alcançou seu destino – um simples bar que muitas vezes servia como a casa de bêbados. Mas dessa vez, serviria para uma importante ocasião.
O jovem encapuzado descobriu o braço e bateu na porta, provocando então um eco prolongado na cidade. Esperou por alguns segundos, mas ninguém atendeu. E mais uma vez bateu: toc, toc, toc!. E desta vez, claro, pôde-se escutar o barulho das fechaduras sendo destrancadas e o alto som do bocejo que o ser provocou de dentro do lugar. Quando a porta abriu-se, o jovem não se deparou com um humano; deparou-se com um ugnis. O estranho ser, apesar de possuir o físico semelhante ao de um humano, era muito diferente em outras questões. A pele era escamosa e dura como a de um dragão, e em suas mãos possuía apenas três grandes dedos. Nos pés, no entanto, ele tinha quatro. Sua boca, quase sem lábios, tinha dois grandes dentes que subiam até um pouco abaixo das narinas. Nenhum ugnis tinha cabelo; nem mesmo as mulheres.
Sorridente, o alienígena disse:
- Como é bom vê-lo depois de tantos anos, LeFrev!
- Igualmente, Kian – cumprimentou o jovem, arrogante, adentrando o estabelecimento. Quando o ugnis fechou a porta, Ewan LeFrev observou o pequenino bar: pares de mesa foram postos de forma organizada pelo local, para que houvesse por onde passar. O balcão era largo e, por conta disso, era o melhor lugar para se ficar.
- Está muito bonito – disse Ewan, olhando mais uma vez para o belo interior. - Parece que seu gosto melhorou.
Kian gargalhou, não tão alto.
- Com certeza eu estou mais ciente de beleza, agora. E quanto a você? O que andou fazendo nos últimos anos?
O jovem respirou fundo, portanto não respondeu. O pobre ugnis não sabia como o antigo e feliz amigo havia mudado. Ewan aproximou-se do balcão e pegou um copo de água que repousava ali há horas. Bebeu tudo num único gole e disse por fim:
- Nada que possa nos interessar. Mas me diga: O que aconteceu na cidade? Por que estão todos em casa?
- O governador enlouqueceu mais uma vez. Quando algo o irrita, ele desconta no povo. Infelizmente o Supremo Senhor não se importa conosco, e por isso alguém sempre acabará ferido ou morto por conta dos problemas pessoais dos membros do Conselho, que por sinal também são do governador.
- Eu não tive nenhum problema na cidade, exceto pelo silêncio que me fez achar que eu estava surdo.
- Você acha que os guardas ficarão a noite toda mantendo vigia? - Kian riu. - Eles nunca fariam isso, pois sabem que o governador não faria nada com eles. De manhã já estará tudo bem; pelo menos com o povo.
- Eu gostaria de ter uma séria conversa com esse tal governador – Ewan tocou suavemente sua lâmina de energia. - Nem todos os guardas da cidade juntos poderiam me matar. Mas eu... Eu poderia matá-los todos muito facilmente.
Kian baixou a cabeça e viu a adaga escondida por dentro do manto do velho amigo. “Ele com certeza mudou”, pensou. O Ewan LeFrev que conhecera há cinco anos não falaria sobre matar alguém; muito menos membros do Conselho.
Os dois velhos parceiros entreolharam-se, e imediatamente Kian soube do que se tratava.
- Não está aqui para conversar, não é, Ewan?
- Não, Kian. Não estou – respondeu Ewan. - Mostre-me a arma.
- Você não pode cometer tolices.
O humano sorriu e assentiu com a cabeça; era o mínimo que poderia fazer para o amigo tolo.
- Eu nunca faria isso. Eu não cometo mais tolices. Pelo menos não há muito tempo – explicou.
- Não estou de brincadeira, Ewan. Essa é uma arm... - antes que pudesse terminar a frase, Ewan vociferou:
- Chega de falar disso. Eu vim aqui por um motivo, e ele não é conversar. Eu quero a arma!
Relutante, Kian enfiou a mão por baixo de seu manto e respirou fundo. “Ele não é mais o mesmo. Eu não posso lhe entregar isto”.
- Vamos, Kian, entregue-me a arma – pediu Ewan, erguendo o braço para o ugnis. “Se eu não entregá-lo a arma, eu morrerei. Devo fazê-lo”, pensou o ugnis. Assutado, ele retirou de seu manto a arma envolta de um grosso pedaço de seda. Depositou-a sobre a mesa e aguardou enquanto Ewan desdobrava o pano. Quando terminou, o humano exclamou:
- Isso é incrível - e depois agarrou com força a adaga primordial que o pano revelara. A aura azul de energia espiritual cercou-lhe inteiro, enquanto forçava um sorriso para Kian. - Eu sinto o poder - ele mirou a nova adaga em uma das mesas e usou sua força de dominador. Da ponta lâmina surgiu a energia espiritual, que diante tanto poder emanado pela adaga, disparou numa incrível pressão em direção à mesa; quando alcançou o alvo, pedaços de madeira espalharam-se por todo o bar. Nenhum dos dois ali presentes jamais vira algo parecido. Era um poder devastador e mortal.
- Nenhuma lâmina de energia se compara a essa! – vangloriou-se Ewan. - E nenhum dominador se compara a mim! Eu farei a diferença, Kian.
O ugnis, por mais hesitante que ainda pudesse estar, usou toda sua força restante para dizer:
- N-não cometa tolices... Como matar alguém. Por favor, eu estou lhe pedindo. Você me prometeu.
O humano sorriu e, aproximando-se da porta, disse:
- Eu lhe prometi isso há muito tempo. As coisas mudaram. E eu também – e rapidamente, como um sinal de gratidão pelo que o amigo fez, jogou a capa para trás junto com algumas moedas que caíram no chão. “Sou diferente” pensou. “Sou o único que possuí uma lâmina de energia primordial. Sou o mais forte dos dominadores e ninguém poderá me deter”. E saiu do estabelecimento num estrondo.
Após se recuperar, Kian raciocinou e viu que fizera a coisa errada. Deu a lâmina de energia para quem não a merecia. Mas era tarde. Todos corriam perigo e ninguém poderia se salvar. A não ser que surgisse alguém tão forte quanto Ewan; e essa era a esperança de Kian. Fizera a escolha errada, e agora, devia fazer a certa.
Capítulo 1: Ross I
- Spoiler:
- Logo no nascer do dia o Porto de Erembour enchia-se de pessoas. Fosse talvez o local mais movimentado de toda a galáxia – situava-se no planeta de Theldry, que era famoso por conta de seus maravilhosos biomas naturais. Isso atraía muitos visitantes todos os dias, que vinham de distantes planetas somente para observá-los. “Uma visão para guardar durante toda a vida”, diziam os viajantes.
Entretanto Kieran e Ross não se importavam com isso, e muito menos com o planeta de Theldry. Estavam ali por conta de grandes desavenças do passado, e agora, esperavam tomar um rumo completamente diferente na vida. E ambos tinham razões para crer que tudo daria certo dali para frente – haviam finalmente comprado uma nave grande o suficiente para realizar a entrega de produtos entre os planetas. Desta vez, iriam receber dinheiro honestamente e poderiam enfim prosseguir adiante.
Mas Ross tampouco tivera tempo de pensar para quem fariam entregas. Desejava alguém como o General Oswyn, que por muitos era considerado um dos homens mais poderosos da Aliança. Muitos também viam-no como um herói de guerra, por ter destruído ao lado de cinco soldados toda a base da Aliança Corrupta, que foi dita como a primeira organização formada para destronar o Supremo Senhor. Embora quase todos fossem a favor da Aliança, muitos ainda não a apoiavam. Dizia-se que o Supremo Senhor realizava acordos com criminosos, para que pudesse dominar parte do comércio das armas mais novas e poderosas da galáxia. Mas isto não afetava ninguém além dos membros do Conselho e criminosos; contudo outras coisas afetavam as pessoas. A Aliança espalhava-se rapidamente por todos os planetas e, caso algum não aceitasse tornar-se parte dela, o exército destruía-o e tomava todos os armamentos. Todos eram obrigados a serem parte da Aliança, e sem exceção. E por isso, quem fosse contra, deveria manter-se em segredo – como no caso de Kieran e Ross, que apesar de não apoiarem-na, sabiam que o único modo de sobreviver seria trabalhando para ela.
Ansiosos com a ideia de ficarem ricos por conta da nave, entraram como loucos no elevador vazio e Kieran pressionou o botão do oitavo andar.
- Esperei muito por esse dia, e aqui estamos por fim – disse Ross, esbelto e sorridente, ao seu amigo. - Penso se Elmer já conversou com o General Oswyn sobre nós. Disse que falaria com ele há dias, e até agora, não nos deu uma resposta. Espero que não aconteça como aconteceu com o bar que nós abrimos... - ele recordou-se do que os fizera pobres. No início do ano, diante o inverno devastador no Porto de Erembour, os dois gastaram quase todo o dinheiro – senão todo o dinheiro – na construção de um bar. Quando o estabelecimento fora concluído, eles ainda conseguiram manter os negócios por mais algumas semanas, e tiveram tempo o suficiente para obter algum dinheiro. Porém tudo foi por água abaixo quando o local tornou-se propriedade militar – transformou-se em um inútil depósito de armas e veículos quebrados.
Kieran inclinou-se para a frente.
- Esse bar foi um completo fracasso, Ross. E também uma de nossas piores ideias. Até hoje não me perdoei por ter sugerido aquilo. Espero que dessa vez dê tudo certo.
- Dará tudo certo, caso o exército não pegue nossa nave – disse Ross ironicamente. Kieran riu, apesar de não ter achado graça no comentário. Olhou de relance no contador de andares e, imediatamente, a porta abriu-se no oitavo andar.
Saíram apressados do elevador, lado a lado, e observaram as pontes que guardavam todas as naves recém-compradas ou de viajantes: estavam todas vazias. “A Torre Segura não pode ter sido roubada” pensou Ross, assutado. “O nome dela não permite que isso aconteça”.
Com o coração acelerado, os dois deram a volta ao redor do tubo do elevador e observaram com mais atenção todos as pontes. Nada viram além da mesa do Atendente de Pilotos que, ao menos, estava ocupada.
- O que aconteceu aqui, senhor? - perguntou Ross, olhando mais uma vez ao redor para garantir que não estava ficando louco. Kieran apenas o seguia em silêncio, evitando falar qualquer besteira. - Onde foi para a nave que custou todo dinheiro meu e de meu amigo?
- Creio que estejam extremamente desinformados, senhores. O oitavo, novo e décimo andar foram tomados pelo exército, e agora ambos os três são propriedade militar.
Ross tocou a testa, fervendo de raiva, e fitou o atendente.
- Somente os andares, certo? As naves foram por acaso transferidas para outro? - ele rezou para que estivesse certo. Mas para seu azar, o homem lhe revelou:
- Estou me referindo a tudo: as naves e aos andares. Caso elas voltem inteiras, poderão tê-la novamente. Entretanto, nas atuais circunstâncias, eu não posso fazer nada. Estou aqui somente para organizar os documentos das naves que estavam presentes aqui.
Kieran ficou boquiaberto, tal como Ross, que se amaldiçoou por ter feito a piada sem graça no elevador. Mas não era ali nem no planeta mais distante que iria desistir; estava sem dinheiro, e precisava daquela nave mais que qualquer outra coisa. Não voltaria a contrabandear nem na pior das hipóteses.
Enquanto Ross permanecia ali, paralisado, Kieran decidiu falar:
- O senhor disse documentos? Presumo então que saiba onde as naves estão, agora, certo?
- Sim, eu posso lhe dizer onde estão – respondeu o atendente, virando-se para seu computador e ligando-o; rapidamente uma imagem produzida pela máquina surgiu no ar, que foi onde ele levou sua mão. - Na verdade, poderei lhes dizer caso a nave de vocês for uma cuja teve o destino revelado. Poderiam me dizer o código de identificação dela?
Kieran pensou por um instante.
- O código é W422058XW. A nave é uma Aranha 3. Uma versão antiga, mas não tanto.
Ross olhou de relance seu parceiro, e concentrado no código permitiu-se realizar uma rápida avaliação. Percebendo o mísero erro, corrigiu:
- Não, não, o código está errado. Na verdade é W402058XW, senhor – ele sorriu forçado para Kieran, que nem sequer olhou-o.
O atendente permaneceu em silêncio por mais alguns minutos, enquanto mexia na tela digital produzida pelo computador utilizando-se das duas mãos. Para Ross, esse pouco tempo foi como aguardar toda a eternidade. Tentava manter a calma e, embora pudesse aparentar fisicamente, por dentro em seus pensamentos explodia de raiva e ódio. “Eu odeio o exército” resmungava. “Estes motivos são os que me levam a crer que a Aliança é inútil. Devo voltar-me à Aliança Corrupta, que ao menos não tomaria as propriedades de civis”. Em sua mente, era evidente que estava enlouquecendo. E, mergulhado nessas palavras, assustou-se quando o atendente disse:
- Aqui está! A nave de vocês está atualmente em Enion – ele fez uma pausa e fitou a tela digital. - E sinto em lhes dizer que é pouco provável que ela retorne; o planeta está em uma terrível batalha contra as forças da Aliança. O Império de Enion está conseguindo resistir mais que qualquer outro lugar.
Ross desta vez arregalou os olhos; corria um enorme risco de perder a nave. Todo o dinheiro gasto com ela iria, literalmente, por água abaixo. E desta vez, impaciente, disse:
- Sabe quanto dinheiro ele teve que gastar com esta nave? - ele apontou para Kieran, que mantinha um olhar como se de nada soubesse. - E quanto eu também tive que gastar? Espero que você possa nos ajudar de verdade nos deixando embarcar na próxima viagem à Enion.
O atendente franziu a testa, e pelo canto dos lábios deixou escapar um sorriso.
- Você quer embarcar para Enion? É impossível; o planeta não é sequer parte da Aliança. O que você pode fazer é viajar até o planeta de Coumyn e embarcar para Enion.
Antes que Ross abrisse a boca, Kieran perguntou:
- Coumyn? É um lugar inútil. Não é possível que esteja falando sério. O que tem em Coumyn além de neve?
- É, realmente, um lugar inútil. E é por essa razão que o Exército da Aliança escolheu esse planeta para montar a base de soldados reservas que lutarão em Enion. Amanhã e depois de amanhã sairá uma embarcação de soldados de Coumyn à Enion. Se decidirem ir, deverão estar vestidos como soldados – ele sorriu. - Espero ter ajudado. Mas saibam que estou apenas lhes dando uma opinião, e que não farei parte disso, tudo bem? Agora vão embora, pois eu não terminei meu trabalho.
Ross e Kieran entreolharam-se, decididos do que fazer.
- Ponha-nos na próxima viagem à Coumyn – ordenou Ross.
O atendente fitou o rosto de Ross, encarando-o, e rapidamente se deu conta de que não deveria ter confiado nos dois. Eles poderiam facilmente dizer o que ele contou-lhes às autoridades. O pobre homem não tinha outra escolha a não ser ajudá-los.
- Não devia ter confiado em vocês. Lhes darei uma passagem para dois – disse por fim. Um largo sorriso brotou no rosto de Kieran e de Ross, que estavam mais que determinados a sair em busca da nave. A dupla não tinha mais nada a perder, e portanto essa era a única opção válida aos olhos dos dois. Ou eles desistiam, ou eles pegavam a nave.
Depois de alguns minutos, o atendente levantou-se com a passagem em mãos e disse, entregando-a para Ross:
- Espero que consigam a nave de volta. E tomem cuidado, pois Enion é um lugar extremamente perigoso.
- Muito obrigado, senhor. Fez bem em nos ajudar – agradeceu Ross, tomando a passagem e dando-a a Kieran. Quando os dois deram as costas para o homem, ele teve a chance de sussurrar sem que escutassem: “Não passam de dois loucos... Arriscando a vida por uma nave”. Mas para eles, era muito mais que isso. Haviam apostado tudo o que tinham na nave; ela tornara-se a única coisa que eles possuíam de valor.
E na manhã do dia seguinte, os dois prepararam-se para embarcar à Coumyn; seria a primeira vez em anos que sairiam de Theldry.