- Corre, Mary, corre! – Vincent gritava o óbvio.
Atrás dele, há alguns passos de distância, Mary fazia o possível para se mover o mais rápido possível. Mas o beco era estreito demais, dificultando o movimento. Vincent conseguiu sair e virou-se para trás esperando por Mary. Quando ela saiu do beco parou por um instante com as mãos no joelho tentando recuperar o folego.
- Arf... Arf... pra... onde? – perguntou ela com os pulmões pegando fogo.
Vincent olhou em volta sem saber o que fazer. A imagem era mesma que eles tinham visto em outros lugares. Carros destruídos e queimados, postes derrubados, casas vazias, janelas e portas quebradas, sangue espalhado por todo lado. Essa era a cara do novo mundo.
- Eu não sei! – respondeu ela com a voz desanimada.
Vincent não conhecia aquela cidade, e mesmo que conhecesse os tempos, tinham mudado. Agora não havia um lugar que pudesse se chamar de seguro, no máximo poderia ser menos perigoso. Para qualquer lado que se olhasse a visão era a mesma: destruição! O mundo já tinha ido para merda fazia meses, tudo o que restava agora era tentar sobreviver mais um dia.
Um gemido grotesco chamou a atenção do casal. Mesmo com a falta de iluminação era fácil saber o que vinha daquela direção. Dezenas de zumbis se espremiam entre as paredes do beco tentando alcançar o casal assustando. Por um instante Vincent sentiu o sangue fugir da suas pernas, mas o medo descarregou uma nova dose de adrenalina no jovem que se pôs a correr novamente no meio da rua.
- Vamos! – ele chamou Mary.
A garota seguiu o jovem pela rua, desviando dos carros e de alguns escombros.
- Aaaahh!
O grito de Mary fez Vincent virar para trás quase que automaticamente. Saindo de baixo de um dos carros um zumbi agarrou o pé da garota fazendo com que ela caísse no chão.
- Vincent! Socorro! – gritava Mary, chutando e se debatendo numa tentativa desesperada de se soltar.
Vincent correu na direção dos dois e pisou no pescoço do zumbi para ajudar a garota. O zumbi gemia enquanto sangue escorria de onde o jovem lhe golpeava, mas a dor não era nada para ele. Finalmente Mary conseguiu se soltar e se levantou. Agora os zumbis já tinham conseguido sair do beco e se aproximavam do casal.
Vincent e Mary deixaram o morto-vivo para trás e terminaram de atravessar a rua. Os dois saíram correndo pela calçada procurando um novo caminho.
- Aqui! – disse a garota e entrou em outro beco escuro.
Sem escolha, Vincent a seguiu. Porém, quando a alcançou, viu o que sobrara de sua esperança evaporar.
- Não! Não! Não! Não! – Mary começo a chorar.
Os dois haviam entrado num beco sem saída. Vincent ainda tentou dar meia volta, mas quando se virou viu a sombra do primeiro zumbi aparecer no início do beco. Outras sombras começaram a se projetar atrás dele e se aproximar lentamente. Vincent pôs a mão no bolso e tirou uma pistola 9mm de dentro dele. Agora só havia uma coisa a se fazer.
“Duas balas!”, pensou ele. “Uma pra mim e outra pra...”, ele olhou para Mary.
- Vincent! Ali! – a voz de Mary o tirou daquele transe melancólico.
O jovem acompanhou o dedo da garota que apontava para uma escada de incêndio. Vincent sentiu uma fagulha de esperança. O jovem pulou e agarrou a base da escada, puxando para baixo. O metal rangeu, mas permaneceu imóvel.
- Caralho! – gritou Vincent com muita raiva – Essa merda tá emperrada.
Ele pulou novamente, puxando a escada com mais força. O metal soltou um forte gemido e começou a deslizar, parando na metade. Vendo que não teria tempo de soltar a escada totalmente Vincent começou a escalá-la. Mary veio logo atrás dele e os dois conseguiram escapar... até que ouviram um barulho metálico.
A escada finalmente se desemperrou e desceu até o chão. Por causa do susto Mary acabou se soltando e caiu no chão outra vez. Os zumbis já tinham chegado mais perto e, ao verem a garota indefesa no chão, se jogaram sobre ela. Mary rolou para o lado tentando escapar enquanto Vincent olhava a cena incapaz de ajuda-la. Mary se levantou e pulou na escada escalando-a desesperada.
- Vamos Mary! – Vincent tentou se confiante – Você conseg...
Então uma mão agarrou a perna da garota e a puxou. Mary conseguiu se segurar, mas não conseguiu impedir que o zumbi cravasse os dentes na sua panturrilha. Mary soltou um grito de dor e balançou a perna tentando se soltar da mordia. O zumbi fechou mais os dentes, arrancando um pedaço da pele da garota. Outros braços foram se esticando tentando alcança-la, mas Mary conseguiu reunir forças e voltou a subir a escada. Porém foi interrompida pelos pés de Vincent que se recusavam a se mover. Ao olhar para o jovem, Mary percebeu que ele estava pálido e tinha os olhos vazios.
- Não... por favor... – Mary implorou – Vincent...
Vincent puxou a pistola e apontou para a cabeça da garota. Uma lágrima surgiu no canto do seu olho.
- Me desculpe, Mary!
E então puxou o gatilho. A bala entrou na testa da garota e ela caiu morta no meio dos zumbis. Vincent subiu o restante da escada. Chegando lá em cima o jovem se sentou e pôs as mãos em volta das orelhas tentando impedir que o barulho de carne sendo rasgada entrasse em seus ouvidos.
“Eu não tive escolha! Você foi mordida... me desculpe, Mary!”
Então Vincent começou a chorar. Sobrevivera mais um dia, mas agora estava sozinho!